Agência Brasil

Brasil • 22 de julho de 2009

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O Brasil poderá ser mediador nas negociações de paz no Oriente Médio. A intenção foi manifestada nesta quarta-feira (22) pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Avigdor Lieberman, em reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em Brasília. É a primeira visita de um chanceler israelense ao Brasil em 22 anos.

“O Brasil é um país que tradicionalmente é muito forte, com laços muitos próximos com o mundo árabe e também com muito boas relações com Israel. Se for negociador, pode contribuir para os entendimentos entre os dois lados”, afirmou Lieberman, durante entrevista coletiva após as reuniões. Segundo ele, o Brasil pode contribuir para que se inicie um diálogo direto e imediato entre israelenses e palestinos e mesmo entre Israel e Síria sem pré-condições. “O Brasil tem excelentes relações com os sírios e os palestinas e pode contribuir nesse diálogo entre nós e nossos vizinhos”, reiterou.

Amorim disse que o presidente Lula mencionou a Lieberman o interesse do Brasil, desde que chamado, na solução desses conflitos. “É um assunto que diz respeito à guerra e à paz no mundo, com todas as implicações que isso tem. Creio que o Brasil não poderia se furtar, se for convidado, de estar presente”, afirmou o chanceler brasileiro.

Tanto o presidente Lula quanto Amorim reafirmaram a posição brasileira em favor de uma solução para o conflito entre Israel e a Palestina que reconheça ambos como dois Estados. “Isto é, o reconhecimento pleno de um Estado palestino, que funcione sem restrições e que seja economicamente viável, mas também um Estado de Israel que se sinta seguro, que não se sinta ameaçado”, sintetizou o chanceler brasileiro. “Tenho visto ele [Lieberman] dizer, e disse em uma das conversas, que favorece a solução baseada em dois Estados. Acho isso um progresso em relação a declarações anteriores”, avaliou Amorim.

O Brasil também mencionou a importância da liberação da passagem para Gaza, sobretudo com finalidades humanitárias. Ficou claro, no entanto, que há divergências de posições em certas questões, como os assentamentos israelenses em território palestino. “A visão que ele deu é de que não tem havido aumento dos assentamentos. Acho que isso é discutível. Não cabe a mim ficar discutindo com ele, mas acho que não, que os assentamentos cresceram desde que foram assinados os acordos de Oslo e de Washington e isso, certamente, é um fator que dificulta”, comentou Amorim, após despedir-se de Lieberman

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel começou, pelo Brasil, um périplo pela América do Sul e justificou a escolha pela importância do país como ator no cenário internacional. “Estamos tentando ser mais ativos na América do Sul, principalmente no Brasil”, reconheceu. Mencionou a presença de mais de 200 empresas israelenses no país e as possibilidade de cooperação em áreas como segurança, biotecnologia, medicina e agricultura. Mas não escondeu as razões políticas da visita: as boas relações do Brasil com o Irã.

“Penso que o Brasil, talvez mais do que qualquer outro país, pode tentar convencer os iranianos a pararem com seu programa nuclear”, afirmou Lieberman, frisando que o Irã é uma ameaça para o mundo todo. “Eles estão tentando exportar sua revolução para outros países e exercer influência sobre o Líbano e mesmo sobre as autoridades palestinas, Hamas e Jirad. Além disso, outros países, como Arábia Saudita e Egito, não aceitarão que apenas o Irã seja uma potência nuclear no Oriente Médio e buscarão também capacidade nuclear. Vamos ver uma corrida nuclear em nossa região e isso é uma grande ameaça não apenas para Israel, mas para o mundo todo”, completou.

Amorim informou que está mantido o convite para que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad visite o Brasil. “A visita deve se realizar depois que ele tomar posse. O Brasil tem uma política de diálogo e você não dialogo só com as pessoas e os países com quem você está de acordo com tudo”, afirmou Amorim. O líder iraniano viria ao Brasil no começo de maio, mas a viagem foi adiada oficialmente em razão da proximidade das eleições no Irã, realizadas em 12 de junho - Ahmadinejad foi reeleito. Na ocasião, o governo de Israel chegou a convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Pedro Motta, para prestar esclarecimentos sobre a visita do presidente iraniano ao Brasil.

Amorim negou que, hoje, Lieberman tenha pedido para que Lula não receba o líder iraniano. “Tivemos uma boa conversa, uma conversa cordial. Expusemos nosso ponto de vista e eles expuseram o deles sobre muitos assuntos”, resumiu Amorim. “Achei ele mais aberto a uma conversa do que talvez eu pudesse esperar”, admitiu. Está prevista para novembro visita do presidente de Israel, Shimon Perez, ao Brasil. Já o presidente Lula deve ir a Israel em 2010.

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