Brasil • 27 de outubro de 2005
Os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, e o chefe de gabinete do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, participaram de uma reunião de acareação na quarta-feira (26) da CPI dos Bingos.
João Francisco e Bruno, dizem que o irmão deles, Celso Daniel, foi torturado e assassinado em 2002, depois que ele descobriu que algumas pessoas desviavam para suas contas pessoais, o dinheiro que era arrecadado para o Partido dos Trabalhadores (PT) através de um esquema de corrupção na prefeitura. Os irmãos acusam o Partido dos Trabalhadores de dificultar as investigações do assassinato do prefeito para encobrir o suposto esquema de corrupção em Santo André.
Segundo João Francisco e Bruno, Gilberto Carvalho, que é atualmente o chefe de gabinete de Lula, sabia sobre o esquema de corrupção de Santo André. Os irmãos alegam que Carvalho confidenciou-lhes pelo menos numa ocasião que ele transportava malas cheias de dinheiro em seu automóvel para o então Presidente do PT, o ex-ministro e atual deputado José Dirceu. Para Francisco, Carvalho seria o principal elo de ligação do suposto esquema de corrupção.
De acordo com os irmãos, Celso Daniel sabia sobre o esquema de corrupção na prefeitura. Bruno disse que Celso considerava o esquema em Santo André como um "mal necessário".
Bruno Daniel acusou Gilberto Carvalho de tentar "levantar uma cortinha de fumaça" sobre o caso, evitando a discussão daquilo que é relevante no caso. Os irmãos criticaram a fragilidade das instituições brasileiras, e deram a entender que este facto não permitiu que a morte de Celso, ocorrida em 2002, ainda não tenha sido totalmente esclarecida.
Visivelmente nervoso, Carvalho negou todas acusações dos irmãos Daniel: "Quero dizer que não falei com esses senhores que eu transportava dinheiro para o deputado José Dirceu. Não sou o responsável por essa 'criação' do senhor João Francisco".
Carvalho acusou os irmãos Bruno e João Francisco de não respeitarem a memória de Celso Daniel. Ele disse que forças políticas contrárias ao Presidente Lula estariam por trás das acusações contra ele e o PT. Bruno Daniel pediu para saber quais seriam essas forças políticas, mas Carvalho não conseguiu explicar. O Presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), também inquiriu Carvalho sobre as supostas forças políticas e perguntou se por acaso ele não estaria se referindo à oposição. Carvalho falou para "não colocarem palavras" em sua boca e não especificou quem supostamente se beneficiaria do suposto jogo político.
Em determinado momento, João Francisco deu a entender que Gilberto Carvalho estaria sofrendo por esconder a verdade: "Eu sinto que o senhor [Gilberto Carvalho] sofre, porque o senhor está com a alma aprisionada. O senhor estava em Santo André, o senhor sabia do esquema. Eu não preciso aqui citar o que está saindo na TV Bandeirantes, o que saiu ontem na TV Bandeirantes, o que saiu algumas vezes na TV Record, o que já saiu na Rede Globo, com relação àquelas famosas gravações, etc. Isto não vem ao caso, não é relevante. Mas o senhor em Santo André fazia a ligação entre, hoje, uma quadrilha denunciada: Klinger, Ronan, Sérgio, e outros, e com a cúpula do PT em São Paulo. Esta é que é a verdade dos fatos Gilberto Carvalho. Infelizmente o senhor tinha que fazer esse meio de campo. O senhor está com a alma aprisionada. Nós não estamos, Estamos com a alma liberta, livre, tranquilas."
Gilberto Carvalho respondeu chamando Francisco de arrogante e acusando-o de criar fantasias: "Doutor João Francisco, o que mais me apavora me impressiona é a sua arrogância, a sua presunção, e a presunção de ser dono da verdade. Estou absolutamente pasmo com a sua capacidade, além da fantasia, com a sua capacidade em produzir juízo das pessoas de maneira absolutamente infundadas, absolutamente sem base de fato na realidade. Bruno, doutor Bruno, o importante é a verdade, a verdade por inteiro".
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Fontes
- Irmãos de Celso Daniel mantêm acusações a Gilberto Carvalho — Jornal do Senado (Brasil), 27 de outubro de 2005
- Ivan Richard. Em acareação, irmãos de Celso Daniel e Gilberto Carvalho mantêm depoimentos anteriores — Agência Brasil, 26 de outubro de 2005