História falsa sobre os décuplos sul-africanos foi ruim para o jornalismo: como consertar os danos
4 de julho de 2021
A recente reportagem falsa do Pretoria News sobre os supostos décuplos, representa um caso para refletir sobre como enfrentar a crise de confiança no jornalismo.
A princípio, a história de uma mulher em Tembisa, localizada a nordeste de Johanesburgo, a capital da África do Sul, e o suposto nascimento recorde de dez bebês atraiu atenção pública. Logo surgiram questionamentos: autoridades de saúde não identificaram qualquer indício do nascimento. Além disso, familiares do esposo afastaram-se da mídia e a mulher foi posteriormente encaminhada para atendimento psiquiátrico.
O editor do Pretoria News, Piet Rampedi, juntamente com o Independent Group, proprietário do jornal, inicialmente sustentaram a veracidade da história. Posteriormente, ele emitiu um pedido de desculpas, e a empresa anunciou a abertura de uma investigação.
A reportagem falhou nos princípios básicos do jornalismo, pois não houve verificação. Críticos, como Helen Zille, presidente da Aliança Democrática, utilizaram o caso para criticar a mídia de forma ampla. Casos desse tipo enfraquecem a confiança no jornalismo.
Para alguns, a solução para tais falhas seria o aumento do controle sobre a imprensa. Analistas como o professor de jornalismo da Universidade da Cidade do Cabo, Herman Wasserman, destacaram que o fato de o Independent não estar vinculado ao Conselho de Imprensa da África do Sul. Há tempos, questiona-se a eficácia do sistema de regulação.
Contudo, adotar esse caminho pode ser problemático. Nenhum sistema de controle é capaz de eliminar completamente as informações incorretas, sejam elas intencionais ou acidentais. Restrições mais rígidas também prejudicam a liberdade de expressão, trazendo consequências graves para a democracia.
Transformações nos meios de acesso à informação o jornalismo profissional. O surgimento das redes sociais levou à redução de empregos e ao esvaziamento das redações. Embora essa acessibilidade das redes traga aspectos positivos, também resultou em um aumento significativo na disseminação de desinformação (fake news). A organização sem fins lucrativos First Draft descreve as redes como poluídas por desinformação, onde nunca foi tão difícil discernir em que acreditar e, ao mesmo tempo, tão fácil ser enganado.
Como consequência, a confiança no jornalismo tem caído nos últimos anos, embora o Digital News Report do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo indique que a pandemia de COVID-19 gerou uma leve recuperação da confiança em escala global.
As soluções para a confiança no jornalismo são amplas, sendo essencial capacitar o público a distinguir entre informações confiáveis e verificadas e o restante do conteúdo disponível.
Tradicionalmente, “marcadores” (como logomarcas, cabeçalhos e autoria) ofereciam garantias de confiabilidade. Na esfera digital, propagadores de desinformação têm se mostrado habilidosos em reproduzir a estética do jornalismo. Dessa forma, torna-se necessária a criação de novas formas de identificação.
Marcas fortes mantêm sua reputação nas plataformas digitais: uma publicação da BBC, por exemplo, carrega o nome de um jornalista respeitável.
Um dos principais desafios para o jornalismo, portanto, é desenvolver maneiras adicionais de melhorar a distinção nas plataformas digitais.
A Journalism Trust Initiative, iniciada pela ONG Repórteres sem Fronteiras, criou emblemas de confiabilidade, por exemplo.
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Fonte
- ((en)) Franz Krüger. False story about decuplets was a low point for journalism: how to fix the damage — The Conversation, 2 de julho de 2021
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