Agência Brasil

5 de agosto de 2009

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O governo brasileiro expressou ontem (4) ao governo norte-americano a preocupação da região quanto ao acordo militar que vem sendo negociado entre Estados Unidos e Colômbia. O temor foi manifestado pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general James Jones, que está no Brasil para tratar de temas de interesse bilateral e internacional. Na quinta-feira (6), o Brasil ouvirá as explicações do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

“Nossa percepção é de que bases estrangeiras à região aparecem um pouco como um resquício da Guerra Fria. A Guerra Fria acabou, esta é uma região que está num processo de evolução democrática pacífica muito grande”, relatou o assessor da Presidência. “A nosso juízo está na hora de uma ação mais diplomática e talvez evitar, um pouco, uma guerra midiática”, ressaltou Garcia, recém-chegado da Venezuela, onde manteve encontros com o ministro das Relações Exteriores e com o presidente Hugo Chávez. As recentes tensões entre Venezuela e Colômbia seriam resultado da aproximação militar entre Colômbia e Estados Unidos.

Na avaliação do governo brasileiro, Colômbia e Estados Unidos deveriam ter exposto suas intenções aos demais países da região antes de avançarem nas negociações, que prevêem a instalação de militares americanos em bases militares na Colômbia. “O fato de que essas bases existam aqui na região não nos parece um fator que contribua para a distensão”, comentou Garcia.

Ele deixou claro para James Jones que o acordo militar com a Colômbia pode frustrar as expectativas da região quanto ao governo de Barack Obama. “Chamamos atenção para o fato de que o presidente Lula manteve muito boas relações com o presidente Bush e alimenta uma expectativa muito maior ainda em relação ao presidente Obama”, contou. “Dissemos o seguinte: não desperdicem essa opinião favorável que existe no continente vis-à-vis o governo Obama”, completou.

Segundo Garcia, o representante do governo dos Estados Unidos foi bastante receptivo. “Houve o reconhecimento de que o assunto foi mal encaminhado e de que talvez tivesse sido mais oportuno da parte do governo norte-americano, e aí podemos incluir o governo colombiano, um esclarecimento prévio que pudesse dissipar todas as dúvidas que existem ainda sobre a natureza dessas bases, sobre o seu alcance”, disse Marco Aurélio Garcia.

Ele acredita que há, da parte do governo dos Estados Unidos, uma preocupação em ouvir a opinião dos países amigos. Nas conversas com o governo brasileiro, James Jones esclareceu que a idéia que tais bases sejam voltadas para ações de caráter humanitário e de combate ao narcotráfico. Ainda assim, a região está receosa quanto à interferência norte-americana. “Cachorro que foi mordido por cobra tem medo até de linguiça”, comparou Garcia.

De acordo com Marco Aurélio Garcia, as bases militares ficariam sob controle colombiano. Outras informações sobre o acordo militar serão dadas por Uribe no encontro que terá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na próxima quinta-feira, em Brasília. Uribe fará um giro por diversos países sul-americanos numa tentativa de acalmar os ânimos e dissipar os temores com relação à aproximação militar com os Estados Unidos.


''O presidente Uribe teve sensibilidade para se dar conta de que o clima na região não estava bom. Fará um périplo por vários países para dar as explicações que lhe parecem necessárias e pertinentes, e isso é um gesto de humildade, é um gesto positivo, que demonstra concretamente que ele se deu conta de que as coisas não foram bem comunicadas

—Marco Aurélio Garcia

Na manhã de ontem, James Jones e equipe estiveram com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com os presidentes da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. Depois do encontro com Marco Aurélio Garcia, na tarde de hoje, se reuniu com a ministra-chefe da casa Civil, Dilma Rousseff. Hoje (5), ainda terá audiência com o chanceler Celso Amorim.

Fontes