29 de março de 2009

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Ações de combate aos piratas na costa da Somália serão adotadas pela Otan, que no final deste mês, mobilizará cinco navios para uma nova operação na região, segundo anunciou hoje, em Bruxelas, a aliança militar do órgão.

O contra-almirante português José Pereira da Cunha irá comandar a operação denominada "Protetor Aliado", que contará com embarcações militares de Portugal, Canadá, Holanda, Espanha e Estados Unidos.

A operação insere-se numa missão mais vasta, que há-de levar a frota liderada pela fragata "Corte-Real" até à Austrália, numa expedição inédita da Organização.

A supervisão da operação ficará a cargo do almirante britânico sir Mark Stanhope, que irá trabalhar em um centro de comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte em Northwood, na Inglaterra, Reino Unido.

O almirante britânico informou em nota que o objetivo da ação é ampliar a segurança das rotas marítimas comerciais vitais para a economia global, agindo em conjunto com outras nações e organizações internacionais.

Uma onda de pirataria na costa somali, numa das rotas marítimas mais movimentadas do mundo, tem causado preocupação internacional. Navios militares de todo o mundo foram enviados à região para tentar impedir os sequestros navais.

Os piratas, que normalmente agem em pequenos grupos a bordo de lanchas, já obtiveram milhões de dólares com o pagamento de resgates de variadas embarcações, que vão desde traineiras de pesca até um megapetroleiro saudita.

A Otan já fizera uma missão semelhante no ano passado. A primeira fase desta operação, conforme informou a Agência Reuters, será realizada no Sudeste Asiático com escalas em Karachi (Paquistão) e Cingapura, além de Perth (Austrália). Será o primeiro deslocamento da história da Otan para aquela região.

A segunda fase da operação ocorrerá no final de junho, quando do retorno da frota à Europa. A União Européia, que tem vários membros como integrantes da Otan, lançou patrulhas contra a pirataria na costa da Somália em dezembro.

A presidência do bloco disse, após uma reunião de ministros europeus anteontem, em Praga, que é possível que haja um prolongamento da missão de um ano.

Missão

A missão Atalanta da União Européia, que luta contra a pirataria nas águas do Índico, recomendou anteontem aos navios que navegam na zona que se mantenham a mais de 600 milhas (966 quilômetros) da costa somali.

A Atalanta recomenda "com insistência" que os barcos se registem através da Internet no Centro Europeu de Segurança Marítima para o Corno de África, já que, em alguns casos, poderão aproveitar a proteção militar (www.mschoa.eu).

Oito fragatas e duas aeronaves participam actualmente na missão Atalanta, no âmbito de uma operação da NATO comandada por Portugal, pela Força Combinada 151, criada pelos Estados Unidos, e por barcos de nacionalidade russa, indiana, japonesa e chinesa.

Em comunicado, a Atalanta recorda que dois navios de propriedade européia foram sequestrados nas últimas 48 horas e adverte para o aumento da pirataria no Sul e no Leste da zona compreendida entre o Sul do Mar Vermelho, o Golfo de Aden, e parte do Oceano Índico.

Esta é a vasta área onde a operação da União Europeia desenvolve o seu trabalho de vigilância e dissuasão "fazendo todo o possível para assistir os barcos atacados", realça a nota.

Sequestros

Na quarta-feira, dia 25, um navio grego pequeno, foi sequestrado na costa da Somália, pelos piratas armados com metralhadoras.

Na quinta-feira, dia 26, menos de 24 horas do sequestro do navio grego, piratas armados com metralhadoras sequestraram navio-cisterna químico norueguês no mesmo local.

Guerra na Somália

A Somália é uma nação mulçumana que está em guerra civil desde 1991, quando guerrilheiros de diferentes ideologias derrubaram o governo pró-soviético, Mohamed Siad Barre, poucos meses depois, o governo formado pelos guerrilheiros se desintegrou quando ocorreram os primeiros combates e desavenças entre eles, que dividiram em clãs e grupos armados e o governo deixa de existir, praticamente deixando o país em caos e fome.

Entre 1992 a 1995, a nação foi ocupada pelas tropas da ONU, mas fracassaram na pacificação do país. Após a saída da ONU, os mesmos grupos voltaram se confrontar até 2000, quando os grupos permitiram a instalação do Governo Federal em 9 anos, entre eles a recriação do Parlamento que reúne todos os integrantes dos clãs, mas continuaram os combates.

Antes disso, em 1997, quase 400 mil pessoas foram mortas, a fome tomou conta de 75% da população, centenas de milhares de refugiados procuraram alcançar os países vizinhos. Em 2000, morreram 500 mil pessoas e 1 milhão estão refugiados em países vizinhos.

No início de 2006, uma milícia de inspiração islâmica União dos Tribunais Islâmicos (UTI), passou lutar contra senhores da guerra e clãs armados, que diversas vitórias entre março a maio, ganhou o controle do sul e a capital Mogadíscio em 11 de junho e em dezembro passou controlar mais da metade do país, que pela primeira vez desde 1991 tinha um governo, agora sob leis islâmicas, até a invasão e a queda da UTI, por tropas da Etiópia e do Governo Federal da Somália.

Em 2007, a luta passou ser de do governo somali e etíopes contra rebeldes mulçumanos da UTI, que pouco tempo depois foi extinta depois da divisão de facções dentro da UTI, entre eles a Al-Sabab, que no início de 2009, passou controlar partes do país após a retirada das tropas da Etiópia e a entrada das forças de paz da União Africana. No mês passado, um acordo de cessar-fogo foi feito após a eleição pelo Parlamento somali, um mulçumano moderado.

A Somália está hoje dividida em quatro ou cinco zonas de influência, dependendo a guerra civil: O governo controla apenas a capital Mogadíscio, o Porto Bebeb; no centro e partes do sul são controlados pela guerrilha Al-Sabab; no norte é controlada desde 1991 pelo governo da Somalilândia; no nordeste Putland desde 1998; entre Somalilândia e Putland, outro governo surgiu em 2007.

No resto do país, mão há governo, não há leis. Há fome, mortes, apedrejamento de mulheres segundo as normas fanáticas reacionárias da sharia do Islã; só vivem como nababos os salteadores e, como é evidente, país nenhum se atreve a invadir a Somália para acabar com esta situação.

Costa da Somália

Enquanto isso, antes da guerra civil, as águas territoriais somalis eram ricas em peixe e camarão. Pescadores somalis capturavam muitos animais marinhos e as pessoas dependiam os peixes trazidos por eles, na época que a existia a Marinha do país.

Com a guerra civil, aliada a total ausência de governo somali no mar, os pescadores foram abandonados à própria sorte. Os bem equipados países pescadores, como a Índia, China, Rússia, franceses da Ilha da Reunião, entre outros, aproveitaram para pescar na costa do país.

Os pescadores somalis sentiram-se prejudicados, sem possibilidade de competir e até escorraçados para fora dos seus mais ricos pesqueiros, tentando defender com tiroteios contra os estrangeiros, mas mesmo assim, os pescadores de outras nações continuaram pescar.

A solução encontrada foi atacar qualquer um que por ali passasse, e pedir resgate. Não tardou a verificar-se que esta “indústria” era muito mais rendosa do que a pesca, e o crescer da pirataria foi imenso. Os primeiros atos registrados pela imprensa de pirataria são do final de 2005. Só em novembro do ano passado os piratas tinham em poder 18 navios à espera do pagamento.

Em 11 de março de 2009, o porta-voz da OTAN, James Appathurai, anunciou que a Organização aprovou, pela segunda vez, a missão anti-pirataria e mais sete navios serão enviados para a Somália.

Fontes