Brasil • 2 de novembro de 2005

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A Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos recebeu as 42 fitas cassete com 13 horas de gravação de escutas telefônicas realizadas na prefeitura de Santo André entre janeiro e março de 2002, depois da morte do prefeito Celso Daniel.

As gravações naquela época, foram autorizadas pela Justiça a pedido da Polícia Federal que alegou estar a investigar negócios relacionados ao tráfico de drogas. Porém, segundo a Folha de S. Paulo há a suspeita de que o que motivou mesmo as gravações foi o Caso Celso Daniel [1].

A CPI interessou-se pelas fitas depois do depoimento do Juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos. Rocha Mattos, que está preso sob a acusação de vender sentenças para criminosos, disse que ouviu trechos das gravações telefônicas e que elas mostravam integrantes do Partido dos Trabalhadores conversando sobre como controlar o rumo das investigações do assassinato do prefeito e assim evitar que certas informações contra o partido viessem a público.

Senadores do Partido dos Trabalhadores mostraram-se contrários à incorporação das fitas à investigação. O Senador Eduardo Suplicy (Partido dos Trabalhadores-São Paulo) disse que as fitas não podem ser consideradas porque Rocha Mattos as declarou como viciadas e ordenou sua destruição.

Já o Senador José Jorge (Partido da Frente Liberal-Pernambuco) defendeu a análise do conteúdo das fitas.

O conteúdo das gravações

Trechos e transcrições das fitas já foram divulgados por vários órgãos da imprensa, entre eles o jornal Folha de S. Paulo e a Revista Consultor Jurídico. [2], [3]

Nas conversas gravadas pode-se ouvir vozes semelhantes ao chefe do gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, da viúva de Celso Daniel Ivone de Santana e de Sérgio Gomes da Silva ("O Sombra").

Segue a transcrição de alguns trechos.

Armar um esquema aí

A - Ô Dias!
B - Oi chefe!
A - Onde é que você está cara?
B - Tô na avenida (...). Eu tô saindo, to indo praí.
A - (...) Fala prá ligá nesse instante (...) Pará de fazer o que está fazendo.
B - Peraí, Peraí, Perai. Ei! Oi! Escuta o (...) Já está aí onde está todo mundo (...) Alô!
A - Ô meu irmão!
B - Cara cê está no sétimo?
A - Ô meu! O cara da Rede TV está me escrachando, meu chapa! Tá falando que... Tá falando que é tudo mentira, que o carro tá pegando, que não destrava a porta, que sou o principal suspeito.
B - Ô cara! Deixa eu te falar. O que hoje tá pegando contra você é esse negócio do carro. Nós temos que fazer é armar um esquema aí: "porque as empresas de (...) junto com a Mitsubishi, por razões óbvias de mercado, se juntaram para dizer que você está mentindo, que o câmbio está funcionando"...Entendeu? Então é o seguinte...
A - Peraí. Perai, péra um pouquinho.
B - (...) Pô! Pegá o que Porra?
A - Chama o Gilberto aí! Chama o Gilberto! Tem que armar alguma coisa!
B - Calma!
A- Eu tô calmo. Quero é que as coisas sejam resolvidas.

Oi! É o Gil.

A - Oi! É o Gil.

B - Oi querido!

A - Tudo bem? Tá tudo bem com você?

B - Tudo bem.

A - Olha duas coisas estou te ligando(...) A segunda coisa. Na celebração, amanhã. Você quer falar?

B - O que vai ser, ein, Gil?

A - Eu vou ter uma melhor noção à tarde. Espera um pouquinho. Vou ter uma reunião. Daí eu pego um roteiro sobre o que você vai falar, vou para tua casa e a gente conversa.

B - Tô muito puta Gil! É uma missa de Sétimo Dia né? Então, talvez não tenha sentido nenhum em eu falar. Mas eu gostaria de saber que coisa é. De repente, eles colocam aquela música ladeira, uma homenagem, entende? É isso. Eu não preciso falar.

A - O cd da música está com você, né?

B - Não. O Laguna sabe. Ou a Maria sabe. Eles não entregaram ainda. Ô Gil! Eu pedi uma coisa pro Laguna, porque a prefeitura tem recebido muitas cartas, né? Ele está respondendo por (...) Eu queria muito isso.

A - Tá bom, tá, tá. Eu vou pedir para ele mandar rapidamente.

B - Eu só queria...

A - Mais duas coisas. Eu vou levar no do final da tarde tudo q tem aqui Eu já catei já tá reunindo. Falei. Pq os caras estavam querendo, o do outro lado . e eu nao dei nada. eu já tinha orientado a Terezinha.

B - Claro.

A - A outra coisa é o seguinte. A merda da Polícia Federal, porque ontem aconteceu isto. Nós fomos prá lá, suspendeu, tá(...)

B - Não tem nada disso. Não levaram nada. (...)porque eles não levaram nada. É uma palhaçada (...)

A - Tá ótimo então. Você vai?

B -Eu vou sim. Eu vou pegar carona com o Klinger.

A - Tá.

B - Alô?

Escuta, eu li a entrevista

A - Oi.

B - Oi, Nilza. Tudo bom?

A - Tudo.

B - Escuta, eu li a entrevista. Ficou maravilhosa! Excelente!

A - Mesmo?

B- Excelente! Eventualmente você poderia até ter falado mais. Mas a edição da Folha está muito boa. Os caras foram muito legais. Não tem nada de ruim lá, tá tudo legal. Excelente, porque contribui com tudo que tá sendo feito. Eu falei com o Gilberto. O Gilberto já leu, achou que tá ótimo também, achou que o Luiz Eduardo vai gostar, porque tá na linha, legal, muito bom mesmo. Escuta, tá marcado lá pras duas horas te pego uma hora na tua casa. Tá bom? Eu passo aí e te pego.

A-Tá bom.

B-Tá bom. Falou. Beijo.

Foi show de bola

A - Alô!

B - Bom dia.

A - Oi, meu querido. Tudo bem?

(...)

B - Foi show de bola.

A - Você achou?

B - Eu achei. Primeiro porque ninguém viu você falar. Você já falou antes?

A - Não. É a primeira vez.

B - (...) Primeiro: tanto é que os jornais tão falando que muda o rumo das investigações. Então você nem falou no dia lá?

A - Não. Eu não vi ninguém.

Ótima a sua entrevista

A - Oi!

B - Oi meu amor. O xande quer falar com você. Tá bom?

A - Ok.

B - Tchau.

C - Como vai minha querida?

A - Vou assim. Arrastando.

C - Ótima a sua entrevista! Viu?

A - Você gostou Xande?

C - Eu gostei muito mesmo.

A - É importante a sua opinião pra mim porque estou totalmente sem referência. Né?

C - Eu achei muita boa. Entendeu. Tá super. Tem coisas... tá perfeito!

(...)

B - Hoje tem uma coisa. Programa pra ir na Hebe.

A - É. Porque vai a mulher... a viúva do Toninho.

B - Sabe que o Genoino quer. E é uma merda né. Uma merda.

A - Olha. Se você falar o que falou ai está 10. Puta! Tá 10, não parece estrela, a dor de uma viúva. Tá 10.

Amanhã você tem que ir tá?

A - Viu meu amor? Deixa eu te falar uma outra coisa. Não sei se nós vamos ter que dar depoimento ou não... Ah. Eu não estava com vocês na quinta-feira.

B - Estava no gabinete.

A - Não, meu amor. Eu estava na terça. Na quinta eu estava naquela bela cidade. Eu estava em Natal.

B - Ah. Tá certo.

(...)

A - É mas foi terça e não foi quinta. (...) Amanhã você tem que ir tá?

(...)

A - Não, mas não tem importância. Eu não gostei da sua entrevista porque você não chamou o Eduardo Suplicy de bundão.

B - Você viu o que falei?

A - Não, eu estou só bricando. Porque este aí é um bosta, este aí...

B - Tem razão. Mas o Genoino é pior. O Genoino cara, ele queria que eu parasse de chorar e parasse de tremer para ir (...) o senador Roberto Freire. O Genoino, ô meu, porque ele...

A - Manda ele tomar no cu.

O doutor Rui está querendo saber se

A - Oi!

B - Oi querido.

A - (...)

B - Tudo bem. Sabe que eu... O doutor Rui está querendo saber se... Você combinou com o Greenhalgh, se eu passo na casa dele ou não?

A - Eu combinei de você chegar mais cedo na casa dele, mas eu não fechei o horário certinho ainda.

B - A não, então tá bom, tá bom, tá bom. Entre oito e pouquinho... Outra coisa viu? Eu vou falar com o César (...) só rapidamente, tá bem? Porque eu vou falar dessa porra aí do... que eu entro no apartamento alguém comigo ou que(...) com a chave.

A- Tá certo.

B - Aí...

A - Eu acho que é importante...

B - Fala!

A - ...dizer isso com simplicidade que você convidou alguém para sair com você para ver um problema no apartamento. Tá? Eu acho que é bom falar isso, entende? Eu acho que a linha que você manteve na Folha é perfeita. Tá.

(...)

Ontem eu fiz uma conversa com o Zé Dirceu

A - Ontem eu fiz uma conversa com o Zé Dirceu, levei até o (...) comigo prá gente discutir sobre como vai ser a nossa tática. O partido vai entrar meio pesado agora, viu?

B - É. Eu vi as últimas declarações do Zé. Eu até achei um programa ontem, no Cidade Alerta, em que ele fez uma entrevista já bastante contundente.

A - Certo.

B - E eu li a reportagem dele no Diário também, segunda-feira. Ah... Eu acho que essa linha aí é uma linha importante prá... Até porque já está chegando quase um mês e a imprensa já está esfriando um pouco... Então, se a gente não tiver nenhum pouco de acção política, é... As coisas vão cair no esquecimento, prá serem lembradas a cada 30 dias, aí é muito ruim. Né? Enquanto isso, a polícia fica tripudiando. Né? Quer dizer, fazendo essas inquisições que, são super laterais, ao acaso. Né?

A - Que dão margem para um monte de bobagem.

B - É lógico, porque daí fica puxando povo que não tem nada a ver com o fato. Né? Isso que é chato. Né? Então eu acho que é legal essa postura de ir para cima, de ameaçar mesmo, com uma investigação paralela.

A - (...) Vou pedir uma audiência com o Alckmin também amanhã. Vou fazer segunda-feira, que completa justamente 30 dias. Porque tem uma motivação prá pedir e vamos prá cima, cara, porque fica insuportável.

Tô te mandando aquele negócio lá que a gente combinou

A - (...)

B - Não. Porque eu tô te mandando aquele negócio lá que a gente combinou. Tá bom? A minha parte. (...) que vai te levar. Tá num envelope.

A - Tá em numerário?

B - É. Em numerário. Ele vai chegar aí prá te procurar e de alguma forma você se encontra com ele aí no(...)

A - Tá. Tá bom. Então(...)

B - Ele vai estar onde você estiver.

A- Tá bom. Ok, cara. Um abraço.

Ver também


Fontes