19 de outubro de 2024

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Há uma semana a região da Grande São Paulo foi severamente impactada por um forte temporal, com chuvas intensas e ventos que superaram os 100 km/h. O evento climático deixou milhões de pessoas sem energia elétrica por vários dias, interrompendo serviços essenciais como semáforos, hospitais e o fornecimento de água em algumas áreas. A concessionária de energia Enel foi alvo de duras críticas pela demora em restabelecer os serviços. No entanto, a empresa não é a única culpada pela falta de energia. Segundo especialistas, a falta de infraestrutura para suportar grandes fenômenos climáticos é um dos principais empecilhos para o funcionamento pleno da energia elétrica.

O professor Pedro Luiz Côrtes, especialista do Instituto de Energia e Ambiente da USP, analisou o cenário: “Os eventos climáticos extremos tendem a ser cada vez mais frequentes, e isso exige uma mudança tanto no comportamento da população quanto nas ações das autoridades”, afirma. Segundo ele, enquanto os moradores começam a se preparar melhor para essas situações, as autoridades ainda estão falhando em adotar medidas eficazes para mitigar os impactos.

Problemas e soluções

Entre os problemas apontados, está a falta de um sistema mais resiliente de controle dos semáforos. “Por que os semáforos, especialmente em cruzamentos críticos, não contam com um sistema de no-break que permita funcionar por algumas horas em caso de queda de energia?” O professor sugere que um sistema de backup, com baterias que possam ser trocadas durante interrupções prolongadas, poderia reduzir significativamente os congestionamentos, como o que travou a Avenida Ibirapuera durante o último temporal.

Outro ponto abordado foi a possibilidade de enterrar a fiação elétrica nas áreas mais vulneráveis a quedas de energia causadas por ventos e tempestades. “É caro, demorado, mas necessário. Precisamos começar em algum momento. A falta de energia afeta não só a vida das famílias, mas também o comércio, que perde mercadorias e fica sem trabalhar por dias”, explica Côrtes. A falta de coordenação entre a Prefeitura e a concessionária de energia também foi criticada. O professor destaca que iniciativas para enterrar cabos ainda não foram implementadas adequadamente e que, em situações de fenômenos da natureza, o soterramento de cabos seria uma das melhores opções para não acontecer uma possível queda de energia.

Além das falhas na infraestrutura elétrica, o professor ressalta a importância de planos de contingência mais robustos. Ele destaca que a falta de energia afetou até hospitais e que, em áreas com unidades de saúde, seria crucial ter linhas de energia exclusivas e enterradas para evitar falhas. “A Enel não sabia quais hospitais estavam sem energia. Isso é inaceitável”, afirma Côrtes, sugerindo um fundo municipal para financiar essas obras de infraestrutura.

Prevenção

O professor também aponta a falta de uso adequado das previsões meteorológicas. “Nós já sabíamos da possibilidade de uma tempestade na semana passada, mas não houve uma preparação adequada. Agora falam em sinergia entre os órgãos de Defesa Civil e a Enel, mas isso deveria ter sido feito antes do desastre”, lamentou. Para ele, é crucial que as previsões climáticas sejam utilizadas pelas autoridades para minimizar os danos.

Com novos temporais previstos para esta semana, embora com ventos menos intensos, a população começa a se preparar, enquanto as autoridades ainda correm para reagir às crises. “Espero sinceramente que as medidas prometidas na última reunião, como a rápida desenergização para a retirada de árvores, sejam cumpridas”, conclui Côrtes. A previsão é de que mais chuvas atinjam a região e a expectativa é de que as lições aprendidas com os recentes desastres resultem em uma resposta mais ágil e eficaz, evitando que os paulistanos passem por novos dias de caos.

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Fontes

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