22 de outubro de 2024

Uma variedade de bebidas energéticas nas prateleiras de um supermercado alemão
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Há alguns anos bebidas energéticas eram algo muito menos comum do que hoje. Na sua chegada ao mercado brasileiro, com a marca Flying Horses, os energéticos tinham um status de produto premium, acessado apenas por populações com alto poder aquisitivo. Nos início dos anos 2000, com a chegada da Red Bull, a situação começa a mudar. Com uma estratégia de marketing poderosa e se aproveitando dos efeitos de um cotidiano cada vez mais corrido e cansativo, o mercado de energéticos ganhou espaço no orçamento do brasileiro, se tornando cada vez mais presente no dia a dia.

Segundo dados da analista de mercado Scanntech, entre janeiro e agosto de 2024 o volume de vendas de energéticos cresceu em torno de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse número fica mais expressivo quando contextualizado nos últimos dez anos. Conforme o levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas, o consumo e produção desses produtos mais que dobraram nos últimos anos. De 2010 para 2020, a produção dos energéticos passou de 63 milhões de litros por ano para 151 milhões. Já o consumo foi de 300 ml para 710ml.

Essas são boas novas para os produtores, mas nem tão boas assim para os consumidores. Para o professor Fernando Asbahr, psiquiatra coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, a situação é preocupante, pois pode indicar uma cultura do excesso de consumo de substâncias que podem prejudicar a saúde. “Pensando nos jovens, esse uso com certeza não se dá somente para recreação. A bebida energética se apresenta também como um recurso para quem está precisando ser mais produtivo. Por exemplo, aquelas pessoas que usam energéticos para virar a noite estudando, porque vão ter um exame no dia seguinte ou depois. Também quem trabalha com mercado financeiro e outras áreas de exigência alta que demandam trabalhos por extensos períodos. E aí você tem um aumento de consumo dos energéticos que é muito comum, associado ao desempenho e ao ritmo de vida”, explica.

Excesso é prejudicial

O excesso de consumo desses produtos pode gerar problemas graves à saúde e está associado a diversos transtornos psíquicos. “O consumo dos energéticos, por si só, já traz um excesso nas quantidades de substâncias que possuem. A cafeína, um dos principais elementos dessas bebidas, vem em uma concentração muito maior nos energéticos do que no cafezinho que a gente está habituado.”

Em decorrência de uma série de complicações de saúde advinda do consumo excessivo de cafeína, a União Europeia decidiu que é obrigatória a rotulagem das bebidas que contenham uma proporção superior a 150 miligramas de cafeína por litro, a qual deve indicar a menção “Alto teor de cafeína/Não recomendado para crianças, mulheres grávidas ou lactantes” e a quantidade de cafeína expressa em miligramas por 100 mililitros. Energéticos em geral costumam ter em sua composição algo a partir de 300mg/L. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um adulto não deve consumir mais do que 400 mg de cafeína diariamente.

“Estudos mais recentes hoje já trazem uma associação do alto consumo de energéticos com mais ansiedade, mais sintomas depressivos, mais comportamentos de risco, então você tem uma associação. O aumento e o consumo excessivo se associam a essas coisas. Não se trata de uma relação de causalidade, mas com certeza há uma ligação, que já é relevante para a saúde mental da população. Muitos dos efeitos desses energéticos sobre a saúde, em particular a saúde mental, e sobre comportamentos que esses jovens acabam tendo parecem estar associados à cafeína. É importante lembrar que a cafeína é um potente estimulador do sistema nervoso central e o abuso dessa substância gera consequências graves”, finaliza.

Fontes

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