Brasil • 27 de novembro de 2014
Com um excedente de capacidade instalada de 280 milhões de toneladas, equivalente à metade do excedente de 570 milhões de toneladas registrado no mundo em 2013, a China é considerada o principal inimigo do setor siderúrgico do Brasil. O quadro se agrava, segundo expôs hoje (26), no Rio de Janeiro, o presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil (IABr), Benjamin Mário Baptista Filho, diante da perspectiva de aumento de capacidade adicional de aço em torno de 170 milhões de toneladas, referente a usinas que estão em construção e entrarão em operação nos próximos anos.
A expansão prevista da capacidade excedente tem também prevalência da China, com 69 milhões de toneladas, além dos países do Oriente Médio e da Índia. A capacidade atual global está em 2,168 bilhões de toneladas, para um consumo de 1,598 bilhão de toneladas. Segundo dados do Instituto Aço Brasil, o consumo de aço não cresceu no Brasil entre 2010 e 2014, o que resultou em um excedente da capacidade instalada no país de 73%, ou o equivalente a 20,7 milhões de toneladas. Isso significa que se o consumo aparente crescer à taxa de 7% ao ano, “que seria o paraíso”, o país teria capacidade de produção para os próximos dez anos, indicou Baptista Filho. Por outro lado, em termos de utilização da capacidade instalada, o Brasil está operando abaixo da média mundial (78%), com média de 69,7%.
Baptista Filho disse, por outro lado, que as importações, tanto de produtos acabados, como do chamado aço indireto, contido em mercadorias como máquinas e equipamentos, vêm subindo sem cessar no Brasil desde 2007. O total importado de aço deve alcançar quase 5 milhões de toneladas em 2014, totalizando 9,045 milhões de toneladas , desde 2007. “Nós estamos importando hoje no Brasil uma Usiminas”, lamentou.
Em 2000, a importação brasileira de aço tinha como maior fonte a Europa (48%) e a América Latina (33,1%), enquanto a China representava fatia de 1,4%. No ano passado, o cenário mudou, com a China aumentando a participação para 37,8%. Em 13 anos, a participação da China nas importações brasileiras cresceu 36,4 pontos percentuais. A perspectiva para 2014 é aumento desses números. O presidente do conselho do IABr destacou, contudo, que esse fenômeno não é só brasileiro. Ele é percebido também nas Américas do Sul e do Norte. Acrescentou que a produção anual de aço no Brasil equivale a 18 dias de produção na China, que totaliza atualmente em torno de 1 bilhão de toneladas.
Baptista Filho avaliou que mantido o ritmo dos últimos cinco anos das importações diretas e indiretas de aço do Brasil, as projeções para 2023 são que 53,2% do consumo de aço no país virão por meio de importações. “Se não fizermos nada, o país vai se transformar, preponderantemente, em um importador de aço, com todos os reflexos negativos para a indústria local, em termos de empregos, de impostos”. Observou que cada emprego gerado pelo setor siderúrgico no Brasil cria outros 23 empregos na cadeia industrial. “Com as importações, nós estamos mandando esses empregos lá para fora, basicamente para a China”, disse.
Benjamin Baptista Filho informou que a questão do excesso da capacidade mundial está sendo discutido somente no âmbito da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), no qual o Brasil tem representação. Apontou, porém, que o problema não é algo que possa ser resolvido em um horizonte previsível de tempo, porque a região geográfica onde está o maior excesso de produção é a China, que não faz parte da OCDE. Disse que de acordo com relato de fontes chinesas que participaram do último congresso da Associação Latino-americana do Aço (Alacero), no início deste mês, no México, o excesso de capacidade é oriundo de empresas controladas por governos provinciais e municipais da China, sobre as quais o governo central não tem ingerência, por se tratarem de empresas sociais, criadas para a geração de empregos.
Fontes
- ((pt)) Alana Gandra. Excedente de produção agrava situação do setor siderúrgico mundial — Agência Brasil, 27 de novembro de 2014
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