19 de setembro de 2024

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Na última segunda-feira, dia 16 de setembro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou mais de dois mil focos de incêndio em todo o território brasileiro, um cenário que vem se estendendo há algumas semanas. Ao longo do último mês de agosto, os satélites do Instituto detectaram mais de 60 mil focos de queimadas no Brasil.

Antes que as queimadas se espalhassem pelo país, entretanto, já se verificava um gravíssimo cenário de seca, condição climática propícia para surgimento e alastramento do fogo. Na realidade, este é o pior cenário de seca desde 1950, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão ligado ao MCTI. que avalia mensalmente a condição de estiagem no país por meio de um índice que considera o déficit de chuvas, o déficit de umidade do solo e a secura da vegetação.

Para o metereologista Luiz Felippe Gozzo, professor do Departamento de Física e Meteorologia da Unesp, no câmpus de Bauru, a seca severa, que ocorre principalmente na região central do país, chama a atenção dos especialistas por sua intensidade inédita, mas também pelo fato de ocorrer logo após outro período de seca em 2023. Se no ano passado o Cemaden apontou que 30% das cidades brasileiras apresentaram pelo menos um mês em condição de seca severa, extrema ou excepcional, neste ano 70% dos municípios enfrentam alguma condição de seca. E o cenário podendo piorar em virtude do atraso da estação chuvosa em boa parte do Brasil.

“Esse não é um cenário inesperado. Há muito tempo, vemos nas projeções climáticas que a situação de mudança climática e aquecimento global iria levar a eventos extremos mais frequentes e mais intensos”, diz o pesquisador do Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet), que é estudioso da área de secas e eventos extremos, e desde 2018 investiga as secas no Estado de São Paulo.

Em entrevista ao Jornal da Unesp, o meteorologista explica os diferentes fenômenos que colaboram para o agravamento da estiagem deste ano, e apresenta as expectativas futuras para o território brasileiro. A preocupação é que as consequências das mudanças climáticas estejam chegando antes do previsto. “Não estamos tão surpresos por quê isso está acontecendo, mas sim por quê já está acontecendo”, comentando que:

‘‘O que temos visto é a tendência a uma maior frequência de eventos intensos, algo observado há muitos anos. Entre os climatologistas, comenta-se que a gente sempre usou projeções para 2050, 2080 até 2100. O que esperávamos que ocorresse naquele período já está acontecendo agora, estamos enxergando esse padrão agora. Mesmo se, magicamente, a humanidade de um dia para o outro conseguisse remover todo o carbono e todos os gases de efeito estufa da atmosfera, o cenário não voltaria ao que era antes. Agora não tem mais volta, vamos ter que conviver com esse cenário por muito tempo.’’

‘‘É importante ressaltar que não são apenas os extremos secos, mas também os extremos de chuva, como o que vimos no Rio Grande do Sul, no primeiro semestre, ou extremos de frio e extremos de calor. Tudo que é muito exagerado vai ser potencializado’’.

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