Brasil • 8 de outubro de 2014

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A primeira sessão de hoje (8) no TEDGlobal destacou pessoas que põem na prática suas ideias e pesquisas, e contou majoritariamente com mulheres entre os palestrantes, que discutiram sustentabilidade, direitos humanos, resolução de conflitos e mobilização social. A conferência, que ocorre pela primeira vez no Brasil, procura disseminar ideias criativas mundo afora. Razão pela qual reúne desde a última segunda-feira (6), na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, personagens de atuação universal nas diferentes áreas do conhecimento humano. O encontro prossegue até sexta-feira (10).

A apresentação que abriu a conferência foi da pesquisadora Ameenah Gurib-Fakim, que estuda a biodiversidade nas Ilhas Maurício, na costa ocidental da África. Ameenah defendeu a necessidade de preservar plantas que só existem naquele ecossistema, argumentando que cada espécie em extinção pode trazer benefícios para a ciência, se estudada.

"Em todo subconjunto de ecossistema que desaparece, plantas importantes, com potencial medicinal, desaparecem para sempre. Cada vez que uma floresta é desmatada ou um pântano é aterrado, um laboratório some e não poderá ser recuperado", enfatizou. As plantas apresentadas por Ameenah tinham substâncias nutricionalmente ricas para pesquisas de suplementos e segurança alimentar, bem como propriedades capazes de tratar doenças como a asma e a hanseníase.

Pesquisadora sobre guerras e conflitos, Séverine Autesserre defende que organismos internacionais prestem mais atenção a conflitos de ordem local, quando tentarem estabelecer processos de paz. Para ela, rivalidades entre grupos e tribos contribuem muito para a instabilidade nacional em países como o Congo, onde a crise humanitária já causou 4 milhões de mortes, e as ações da Organização das Nações Unidas (ONU) têm dificuldade de assegurar estabilidade mesmo depois de eleições.

"Os conflitos precisam ser resolvidos também de baixo para cima, e isso põe de cabeça para baixo a identidade de órgãos como a ONU, que agem em um nível macro", disse Séverine, que pediu programas locais de paz, com aposta no diálogo e ações de conciliação em pequena escala.

Em sua fala, a ativista Doreen Khoury, também da área de conflitos, disse que um lado da guerra na Síria não ganha destaque nas grandes coberturas, que é a mobilização da sociedade para reagir à violência com métodos não violentos. "As notícias que muitas pessoas veem são de um país já destruído, em que não existe mais sociedade", ressaltou.

Segundo ela, o avanço do grupo extremista Isis (sigla em inglês para Estado Islâmico do Iraque e Levante) e a repressão do governo silenciam as narrativas contadas por cidadãos que lutam para ocupar espaços públicos e praticam a não violência para combater o extremismo. Doreen exemplificou com manifestações pacíficas que ocorrem no país, iniciativas de construir infraestrutura e fornecer educação de forma cooperativa, assim como movimentos artísticos de questionamento da violência.

Ativista anti-corrupção, Charmian Gooch pediu aos participantes que sejam parceiros de seu projeto, que pretende revelar quem está por trás de empresas anônimas envolvidas em ações criminosas. "Encontro esse tipo de empresas a todo momento, por trás de cada caso de corrupção e desmatamento que não conseguimos imaginar. Não sou contra empresas, sou contra o anonimato que permite que criminosos ajam por trás de empresas", argumentou.

Ela também defendeu que não se trata de violar a privacidade, mas de ter informações que desvendem crimes. "Para que a economia funcione bem e de forma justa, é preciso ter acesso às informações corretas", disse Charmian, e divulgou o site http://www.globalwitness.org/, pelo qual tenta dar cabo da tarefa de revelar os anonimatos.

Único homem a fazer parte da primeira sessão desta quarta-feira, o israelense Oren Yakobovich montou uma empresa que usa equipamentos de segurança e vigilância para denunciar violações aos direitos humanos. Entre as ações, estão distribuir câmeras e treinamento a pessoas em áreas de conflito com o objetivo de flagrar intimidações e agressões.

"Para além dos pesquisadores e jornalistas, as pessoas que sofrem essas violência precisam contar suas próprias histórias, e documentá-las", disse o ativista, que foi soldado do Exército de Israel, em operações na Cisjordânia, e decidiu se dedicar a denunciar crimes contra os direitos humanos, a partir da experiência vivida.

Fontes