3 de julho de 2024

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O setor agropecuário tem, grosso modo, garantido os saldos comerciais positivos do Brasil verificados nos últimos 15 anos. A análise de um período de 34 anos, de 1989 a 2022, mostra que o conjunto de bens agropecuários foi superavitário em todos os anos avaliados. Em especial, a partir de 2008, ano marcado pela crise financeira global deflagrada a partir de problemas nos mercados imobiliários dos Estados Unidos. Daquele ano em diante até 2022, o saldo não agropecuário foi sempre negativo para o Brasil, de modo que os saldos comerciais positivos observados a partir de então foram possíveis devido aos superávits comerciais agropecuários. Em 2022, os produtos agropecuários alcançaram 42% das divisas comerciais em dólar obtidas pelas exportações brasileiras.

Esses achados são o foco do texto para discussão “Saldo agropecuário brasileiro de 1989 a 2022: mudança de perfil e cenário global” de autoria do técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Rogério Edivaldo Freitas. O trabalho busca analisar a contribuição da agropecuária para os resultados comerciais brasileiros entre 1989 e 2022. Além disso, o estudo identifica os produtos de maior participação em tais resultados bem como mapeia a eventual mudança de perfil ao longo do intervalo de 34 anos analisado. O trabalho se baseia em dados de exportações e de importações brasileiras do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com base na definição de produtos agropecuários do Acordo Agrícola da Rodada do Uruguai.

O estudo aponta que os cinco bens líderes no primeiro subperíodo analisado, de 1989 a 1994, (resíduos de indústrias alimentares, café e mates, preparações de hortícolas, sementes e oleaginosos e tabaco e manufaturados) representaram, em média, 65% do valor das exportações agropecuárias brasileiras naquele momento. O subperíodo mais recente, que abrange o intervalo de 2014 a 2022, mostra novos protagonistas. Aqui, sementes e oleaginosos, carnes e miudezas, açúcares e confeitaria, resíduos de indústrias alimentares e cereais responderam, em média, por 75% do valor das exportações agropecuárias brasileiras no subperíodo. O estudo identifica que o aumento de dez pontos percentuais entre os subperíodos sinaliza uma concentração de divisas nos grupos de produtos líderes ao longo do tempo.

Chama a atenção também o crescimento da participação dos grupos complementares de sementes e oleaginosos e resíduos de indústrias alimentares na comparação dos dois subperíodos. Entre 1989 e 1994, esses grupos de bens representaram em média 29,40% das receitas de exportações agropecuárias do país. No subperíodo que vai de 2014 a 2022 passaram a 40,50% do montante, em média.

Ao mesmo tempo, o trabalho joga um olhar sobre os gastos do Brasil em importações no período de 1989 a 2022. Há uma clara redução dos gastos com importações de alimentos nos gastos totais de importações do país entre 1989 e 2022. No subperíodo inicial (1989 a 1994) esse gasto representava, em média, 12% das divisas usadas nas importações brasileiras. Em 2022, esse percentual ficou no patamar dos 5% e com viés declinante. No subperíodo final (de 2014 a 2022), os cinco grupos que lideraram os gastos do Brasil com importações agropecuárias foram cereais (21,63%), óleos animais ou vegetais (10,88%), bebidas e vinagres (10,66%), malte, amidos e féculas (6,84%) e frutas (6,39%).

Futuro

Baseado em prognósticos do perfil de oferta e demanda mundial de alimentos para esta década, Freitas discute alguns cenários futuros para a agropecuária brasileira. Em termos de capacidade exportadora, os produtos mais dinâmicos do setor agropecuário brasileiro, nesta década, deverão ser algodão, soja, milho, carnes (suína, bovina e de frango) e frutas (em especial a manga).

Por outro lado, Freitas registra no estudo que algumas lavouras, como mandioca, café, arroz, laranja e feijão, deverão perder área cultivada no Brasil, entre 2021 e 2030. Apesar disso, esse encolhimento de uso do fator terra nessas culturas deverá ser compensado, em dada medida, por ganhos de produtividade.

Em termos de mercado exportador, o estudo aponta algumas regiões do globo como áreas de interesse para os produtos brasileiros ligados ao setor agropecuário. Destaque para o Sudeste Asiático, com dominância da China (soja em grão, cevada, milho, algodão, carne bovina, carne suína e carne de frango). Além disso, México (milho, carnes suína e de frango), União Europeia (soja em grão, farelo de soja, carne bovina e carne de frango), Índia (óleo de soja), Oriente Médio (cereais, carne bovina e carne de frango), Norte da África (cereais e óleo de soja), Estados Unidos (carne bovina), Turquia (algodão), África Subsaariana (cereais e carne de frango), América do Sul (óleo de soja) e América Central (carne de frango).

Fontes

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