16 de fevereiro de 2021

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

A questão de gênero também chegou à pandemia de covid-19, alerta a OPAS. Num documento publicado no dia 03 passado, Carissa Etienne, diretora da instituição, informou que os efeitos sociais, econômicos e de saúde relativos à pandemia estão afetando desproporcionalmente as mulheres e homens. "Para superar esta pandemia, os países devem reconhecer e responder à dinâmica de gênero deste surto. Isso começa garantindo que mulheres e meninas tenham acesso aos serviços de saúde de que precisam – especialmente durante este tempo de crise. Isso inclui linhas diretas de violência de gênero e serviços de saúde sexual e reprodutiva, que são serviços essenciais".

Além de representarem 70% das profissionais de saúde no mundo, o que as coloca numa situação de risco maior de se contaminarem com o Sars-Cov-2 que os homens, muitas delas também enfrentam riscos relacionados à perda de renda já que, segundo Etiene, "muitas mulheres foram forçadas a deixar seus empregos para cuidar de suas famílias". E com os problemas econômicos advindos desta perda de renda e outras tensões causadas pela pandemias, vieram os conflitos familiares que aumentaram os casos de violência doméstica. "Para muitas mulheres, o lar não é um espaço seguro", disse a diretora.

Mais afetadas emocionalmente

Um estudo realizado no Brasil pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em meados de 2020 e que ouviu três mil pessoas, indicou que as mulheres também estão sendo mais afetadas emocionalmente que os homens durantes a pandemia. Em dados comparativos, elas responderam por 40,5% de sintomas de depressão, 37,3% de estresse e 34,9% de ansiedade.

De acordo com o neuropsicólogo Antônio de Pádua Serafim, coordenador do estudo, “embora a pesquisa não tenha detalhado as razões que levaram as mulheres a terem maior sofrimento psíquico, a literatura médica vem mostrando que são elas que têm maiores impactos pelas condições sociais em que vivem. A pandemia só acirrou essa situação. Elas cumprem dupla jornada, acompanham o desenvolvimento escolar dos filhos e, na pandemia, mais pessoas permaneceram dentro de casa, além das preocupações relacionadas ao próprio vírus (iminência de contaminação, necessidade de mudanças de hábitos de higiene, redução de convívio social, familiares adoecidos, etc.). Todas essas circunstâncias geram estresse e podem ser gatilhos detonadores de doenças mentais”, explicou.

No entanto, o fenômeno não atinge só as mães de família, pois a pesquisa encontrou um dado interessante que revela outra face da questão de gênero: o sofrimento psíquico também atingiu quem morava sozinha e não tinha filhos. Na verdade, os níveis mais elevados de estresse, depressão e ansiedade foram relatados, justo, por mulheres deste grupo. Segundo a pesquisa, muitas mulheres deste grupo estavam desempregadas ou tinham doenças crônicas, o que, segundo o pesquisador, poderiam ser motivos para deixá-las num estado mais vulnerável e sem perspectivas para o futuro.

Fontes