6 de março de 2021

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

Por Jornal da USP

De um lado, o vírus, suas novas variantes, o risco do contágio, o medo da morte e uma pandemia de covid-19 fora de controle. De outro lado, solidão, depressão, perda de aprendizado, violência doméstica, desemprego, desnutrição e tantos outros males associados a uma condição de isolamento social que parece não ter data para acabar.

Encurraladas entre essas duas realidades, milhões de famílias brasileiras sofrem desde o início deste ano com a difícil decisão de enviar seus filhos de volta à escola ou mantê-los confinados em casa, limitados ao ensino remoto (ou sem ensino nenhum), até a tempestade passar. É uma escolha que divide opiniões, até mesmo entre especialistas, e cuja resolução depende de uma quantidade enorme de variáveis coletivas e individuais.

Todos concordam que as escolas devem ser tratadas como prioridade: “as últimas a fechar e as primeiras a reabrir”, dizem os educadores. O problema é como fazer essa reabertura com segurança, justamente no momento em que a pandemia atinge seu ponto mais crítico no Brasil, com mais de 1.700 mortes por dia, sistemas de saúde em colapso e o vírus se espalhando numa velocidade bem maior do que as vacinas em todo o Brasil.

As evidências científicas acumuladas até agora, com base na experiência de outros países (que reabriram suas escolas bem antes do Brasil, ou nem chegaram a fechá-las) sugerem que as escolas não são um ambiente particularmente perigoso para a disseminação do novo coronavírus. Os riscos são, essencialmente, os mesmos associados a outros ambientes de convívio social, como lojas e restaurantes, que há muito tempo já voltaram a funcionar — ainda que de forma limitada. Tomadas as devidas precauções de distanciamento, higienização e uso de máscaras, a escola pode até ser considerada um ambiente mais seguro do que outros, visto que o risco de transmissão é menor entre crianças e adolescentes do que entre adultos.

“A evidência de surtos entre alunos é baixíssima”, diz o médico e pesquisador Marcio Bittencourt, do Hospital Universitário da USP, que coordenou um estudo de revisão sobre o tema para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no início deste ano. O que não significa que não possa ocorrer a transmissão do vírus de uma criança para outra, ou mesmo de uma criança para um adulto; mas a probabilidade de o vírus se espalhar rapidamente para um grande número de pessoas dentro do ambiente escolar parece ser pequena.

“As evidências atuais sugerem que o risco de contaminação dentro do ambiente escolar não é maior que o risco comunitário onde a escola está inserida, e que a reabertura das escolas não está associada à piora da evolução da pandemia. Por isso, a reabertura das escolas deve ser uma prioridade dentro da estratégia de controle da covid-19, que pode ter seu resultado balanceado com o fechamento de outras atividades não essenciais e implementação de medidas sanitárias e distanciamento social”, diz a revisão do BID, que levou em conta os resultados de mais de 900 estudos e artigos publicados sobre o tema, desde o início da pandemia até 15 de janeiro deste ano.

Fonte