14 de dezembro de 2005

Localização da cidade de Shanwei (em amarelo) na província de Guandong, ao sul da China.
Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

Forças de segurança chinesas isolaram uma aldeia onde a polícia ao que parece disparou e matou pelo menos 20 pessoas, no que pode ser a maior repressão com vítimas fatais por parte das autoridades contra civis, desde que houve o Protesto na Praça Tiananmem em 1989.

Dias depois de que foram tornados públicos relatórios a respeito dos incidentes, Pequim confirmou que a polícia disparou contra camponeses na terça-feira (6), os quais protestavam contra uma possível confiscação de terras. Segundo comunicados governamentais, três pessoas receberam disparos da polícia enquanto esta tentava sufocar a manifestação. Este incidente ocorreu meses depois de um outro protesto contra a construção de uma planta geradora de energia, que segundo os camponeses se encontrava em terras roubadas.

As autoridades prenderam o comandante policial acusado de autorizar os disparos. Centenas de policiais bloquearam as vias de acesso na aldeia de Dongzhou, parte da cidade de Shanwei na província de Guangdong, próxima a Hong Kong.

Os aldeãos afirmam que até 20 pessoas morreram nos confrontos. Dizem também que outras 300 foram presas por terem participado de protestos nos últimos meses. O protesto da terça-feira anterior tinha como objectivo pedir a libertação de 3 pessoas.

Um comunicado do governo, emitido depois de uma censura informativa de quatro dias, diz que os camponeses atacaram a polícia com paus, facas e coquetéis molotov: "A polícia foi obrigada a abrir fogo alarmada. Na confusão, três camponeses morreram, oito resultaram feridos, três deles com gravidade".

Os camponeses afirmam que o protesto foi pacífico e que, no máximo, só foram lançados fogos de artifício para o alto. Um adolescente disse: "Não esperávamos que a polícia abrisse fogo. Lançaram bombas de gás lacrimogênio primeiro e depois dispararam".

Segundo os jornais de Hong Kong, os residentes disseram que a polícia está indo de porta em porta pelas casas oferecendo dinheiro para quem se livrar dos corpos, com o fim de reduzir o número visível de mortos.

Os oficiais governamentais locais afirmam que os assassinatos serão investigados. Eles também acusaram três moradores de fomentar o protesto, adicionando que eles deveriam ser responsabilizados legalmente pelo que se sucedeu.

A agência de notícias estatal Xinhua, não mencionou as declarações dos camponeses sobre as mortes.

Os moradores locais citados nos meios de comunicação de Hong Kong e estrangeiros disseram que os corpos das vítimas fatais foram abandonados nas ruas ou jogados ao mar. Camponeses afirmaram que alguns foram executados depois de terem sido capturados pela polícia.

Na terça-feira (13), numa carta aberta divulgada pela internet, 14 intelectuais chineses condenaram o ocorrido e exigiram uma investigação: "Expressamos nossa mais forte indignação e condenação contra as autoridades cantonesas, que fizeram este sangrento incidente ocorrer". Entre os signatários estava Ding Zilin, professora universitária aposentada e mãe de uma das vítimas do Protesto na Praça Tiananmem.

Qin Gang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, não concordou com a comparação feita com o Protesto na Praça Tiananmem, em 1989. Durante entrevista evitou a maior parte das perguntas dizendo que não tinha ainda informações precisas sobre o que tinha acontecido. Autoridades locais recusaram-se a responder indagações feitas pela imprensa estrangeira.

Fontes