6 de janeiro de 2022

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O Presidente angolano João Lourenço concede na quinta-feira, 5, uma entrevista colectiva a cinco orgãos de informação escolhidos pela presidência, algo que está a provocar críticas de profissionais e outros.

O Jornal de Angola, Expansão, O País, TV Zimbo e a agência Lusa, de Portugal, foram os meios escolhidos pela Presidência para participar na entrevista, ao contrário do que aconteceu em 2018 quando João Lourenço deu uma conferência de imprensa aberta a todos os orgãos de informação.

Num comunicado, a Presidência disse que este é um programa na sequência do anterior iniciado em 2018 e que futuramente, sem adiantar datas, outros órgãos serão contemplados.

Luísa Rogério, presidente da Comissão da Carteira e Ética, afirmou que a iniciativa é boa, mas peca por não esclarecer os critérios da selecção destes órgãos escolhidos e não outros.

"Era necessário que a Presidência explicasse os critérios que determinaram a escolha de uns e outros não”, acrescentou Rogério, afirmando ainda ser necessário saber quando é que haverá outras entrevistas com outros orgãos de informação.

“O Presidente da República é um servidor público, por isso deve ser transparente porque às vezes o acto em si pode ser bom, mas o que norteia pode não ser muito convincente", concluiu.

Fernando Guelengue, jornalista e director de um portal cultural, disse que gostaria de estar presente para colocar uma questão que acha importante e considera que o facto de não ter sido escolhido é discriminação.

"Só o facto de serem uns órgãos a entrevistar ja é discriminatório, o processo de escolha também não é claro, é discriminatório, o Presidente coloca uns como filhos e outros como enteados", arematou

Outro jornalista, Ilídio Manuel, disse estar preocupado com o facto de ter visto “nas redes sociais uma informação não desmentida, em que o secretário de informação do Presidente solicita que estes órgãos enviem previamente duas questões para a conferência de amanhã”.

“Isto não é correcto e o facto de convocar uns órgãos e deixar de fora outras é discriminatório”, acrescentou Manuel para quem a escolha “dá a entender que os que não são de feição do PR ficam excluídos".

Em Benguela jornalista critica escolha e activista quer respostas

Um dos fundadores do jornal Agora, de que foi director-geral, o jornalista Ramiro Aleixo, disse que a limitação de acesso dos media é o “efeito dos retrocessos que aconteceram com o exercício de João Lourenço”.

“A selecção leva-nos a interpretar que existe discriminação até nos organismos de comunicação, e nós já sabemos, logicamente, quem são esses seleccionados”, acrescentou.

Por seu lado, o consultor social e activista da Organização Humanitária Internacional (OHI), João Misselo da Silva, disse esperar que haja espaço para explicações sobre as privatizações que “têm levantado muitas dúvidas e suspeições no âmbito da transparência”.

Em vários círculos da sociedade surge igualmente como expectativa um pronunciamento relativo ao tratamento à carta da ministra das Finanças, Vera Daves, quanto a supostas ilegalidades no modelo de adjudicação de obras milionárias sem concurso público, de forma directa ou simplificada.

Misselo da Silva disse que gostaria também que a recém aprovada lei eleitoral fosse outro tema a que o Presidente responderá pois, segundo disse, essa lei conforme aprovada “não garante transparência".

Fontes