Agência Brasil

7 de setembro de 2018

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Cazaquistão, uma das 15 antigas repúblicas soviéticas, decidiu abandonar o alfabeto cirílico (usado na Rússia e em outros países eslavos) e retornar ao alfabeto latino depois de mais de 70 anos depois de abandoná-lo. Espera-se que a transição conclua em 2025, data limite para a execução de uma série de diretrizes no marco da Estratégia do Cazaquistão 2050, um plano destinado a levar a cabo reformas políticas, sociais e econômicas, aproximar o país dos outros 30 países mais desenvolvidos do mundo até o ano de 2050.

Kairat Sarzhanov, embaixador do Cazaquistão no Brasil, observou que, embora a mudança seja “drástica”, responde a fatores “pragmáticos e lógicos” e que seu objetivo é reforçar a modernização e a integração econômica do país. “O alfabeto latino é o sistema de escrita mais usado no mundo. É usado por 70% dos países. Em outras palavras, faz parte do sistema de comunicação internacional”, disse ele.

Sinalizou também que a ideia tem sido debatida há muito tempo. “Figuras públicas e especialistas no Cazaquistão mencionaram isso nos anos posteriores à independência [da antiga União Soviética, dissolvida em dezembro de 1991]. Mas a sociedade ainda não estava pronta. A questão voltou a tomar relevância em 2006, quando o presidente [Nursultan Nazarbaev, que havia ocupado o cargo desde que foi criado], instou os especialistas a retomar o debate sobre a mudança ao alfabeto latino”, declarou.

O país não só tem em conta a expansão das possibilidades econômicas, mas também a perspectiva cultural. A substituição do alfabeto cirílico pelo alfabeto latino, argumentou Sarzhanov, facilitará o aprendizado do inglês e de outras idiomas escritos com o alfabeto latino. “Além disso, a reforma permitirá que estrangeiros estudem o idioma do Cazaquistão”, afirmou.

Mencionou também a possibilidade de traduzir o cazaque das principais obras da literatura mundial e vice-versa. “Esperamos que a literatura cazaque, caracterizada pela sua tradição épica e lírica, esteja mais disponível no português e espanhol, e propicie a aproximação cultural e humanitária dos nossos povos”, apontou.

Globalização

Para Antônio Barbosa, professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), a decisão do Cazaquistão “é uma prova irrefutável” de que a história contemporânea “tenha globalizado”. “A [decisão] não é só econômica, mas também política, social e cultural. Hoje, o inglês representa o que o latim estava no Império Romano. Isto se deve à supremacia alcançada pelo capitalismo representado pelos Estados Unidos”, opinou.

Como exemplo, Barbosa mencionou a China, uma nação que desde a morte do líder comunista Mao Tsé-Tung, em 1976, tem tratado de integrar sua economia à do mundo ocidental. O professor também considera que, no Cazaquistão, essa integração pode compensar os custos sociais e financeiros derivados da mudança no sistema de escrita.

“Por muito alto que sejam os custos, me parece que os avanços serão muito mais significativos. Uma das razões pelas que a Índia tem conseguido em transformar em uma importante economia emergente é o fato de que a maioria de sua população é ensinada a ler e escrever em inglês”, apontou.

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