10 de setembro de 2024
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o Brasil começará a encolher antes do previsto, em 2042. Com cerca de 215 milhões de habitantes, o País está entre os top 10 do mundo em população, no entanto, a diminuição populacional chegou mais cedo. O professor Fabio Betioli Contel, do Departamento de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, discorre sobre essa redução.
“Em todos os países do mundo isso tem acontecido. Nos países desenvolvidos isso já ocorre desde o começo do século passado, em países periféricos ou em desenvolvimento como o Brasil isso vem sendo notado, pelo menos desde as décadas de 60 e 70, essa transição demográfica é a passagem de uma dinâmica populacional onde se tinha altas taxas de natalidade e mortalidade. Por trás desse fator está o fenômeno da urbanização, na medida em que as populações se urbanizam há certos fatores que interferem diretamente na natalidade e na mortalidade, como são, por exemplo, o acesso a equipamentos e serviços públicos, como serviços e equipamentos de saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto, coleta e tratamento de lixo, água encanada, tudo isso contribui para diminuir bastante as taxas de mortalidade”, afirma.
esperado que o Brasil tivesse mais de 220 milhões de habitantes, no entanto, isso não aconteceu. Segundo o professor, um dos principais motivos dessa desaceleração do crescimento populacional é a diminuição na taxa de fecundidade brasileira: “As mulheres estão tendo menos filhos. Na década de 1960, cada mulher no Brasil tinha algo em torno de 6.3 filhos. No ano de 2000, passou-se para 2.4 filhos por mulher. Hoje, em 2023, é o último dado que tem para essa dinâmica, cada mulher tem 1,57 filhos, menos de dois filhos por mulher no Brasil. Então isso é o principal fator que explica essa desaceleração do crescimento demográfico”.
Preocupações
Com o aumento da expectativa de vida dos cidadãos, desafios são enfrentados pelo governo no que diz respeito à criação de políticas públicas que supram a necessidade dessa população envelhecida. Contel disserta sobre esse impacto: “Os principais fatores que preocupam desse aumento da expectativa de vida são, em primeiro lugar, a Previdência Social pública. As pessoas começam a viver mais, elas pagam a Previdência Social até uma certa época e depois elas vão aproveitar a sua velhice com a sua aposentadoria. Essa conta é cada vez mais complicada para ser fechada em função das pessoas estarem vivendo mais”.
Além da Previdência, de acordo com o professor, outro empecilho é a qualidade do serviço de saúde pública. A população mais idosa tende a desenvolver doenças de difícil tratamento, chamadas de neoplasias. Tudo isso é muito custoso para o Estado, que necessita cobrar o custo dos processos cirúrgicos e medicamentos. Outro fator que também gera impacto para o governo é a diminuição do mercado de trabalho. Com indivíduos fora da idade ativa, entre 18 a 55 anos, o País precisa encontrar diferentes formas de utilizar a população em idade de aposentadoria.
“Não é uma notícia ruim, mas é algo que surpreende, porque existe toda uma infraestrutura criada, existe toda uma dimensão das cidades para esse número de população que ainda vai crescer. Tudo depende de como as políticas públicas vão ser encaminhadas para que essa diminuição do crescimento não se torne um ônus para o País. Existem formas de se lidar com isso, principalmente nesses três flancos que eu mencionei” , conclui.
Fontes
editar- ((pt)) Brasil terá redução populacional antes do previsto, aponta IBGE — Jornal da USP, 10 de setembro de 2024
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