20 de setembro de 2024
Os bombeiros, voluntários e membros da comunidade visivelmente emocionados ficaram gratos pela chuva do último fim de semana na Bolívia, enquanto os esforços continuavam para apagar o incêndio que devastou partes da Amazônia boliviana. Embora várias partes do incêndio tenham sido apagadas, a situação ainda não está sob controle.
No dia 12 de agosto, por exemplo, aviões da Força Aérea Boliviana completaram um bombardeio de nuvens com iodeto de prata para provocar chuva e assim ajudar a conter os incêndios florestais que assolavam o leste do país. Segundo as autoridades desta área o ar está altamente contaminado.
E pelo menos desde julho, várias regiões do país ardem sem trégua devido aos incêndios florestais que até agora devastaram cerca de 4 milhões de hectares, embora os ambientalistas considerem que os danos são muito maiores e as consequências serão irreversíveis.
“Este não é um problema boliviano, é um problema global; Diz-se que a Bolívia, o Brasil e parte do norte da Argentina são os pulmões do mundo. Bem, os pulmões do mundo literalmente queimaram. Este desastre ecológico terá consequências globais, sem dúvida”, disse Enrique Bruno, comandante do Grupo de Bombeiros Fundasol do departamento de Santa Cruz, à Voz da América.
O governo do presidente Luis Arce decretou uma “emergência nacional” em 7 de setembro para canalizar a ajuda internacional de forma mais eficaz. Depois, o gabinete de ministros deslocou-se para aquela região para coordenar as ações no terreno.
Arce defende sua gestão desde o início do incêndio. Em mensagem recente aos bolivianos, ele disse: “Este é um momento de trabalho e ações, não é hora de politizar o combate aos incêndios”.
Na mesma mensagem expressou que os incêndios não deveriam ser utilizados para fins eleitorais, argumentando que a convocação de marchas e bloqueios contra sua gestão atacaria “a economia e a vida do povo boliviano”.
Arce respondeu assim às críticas de legisladores, organizações ambientalistas, setores privados e até do próprio ex-presidente Evo Morales, um ex-aliado que o acusou de não ter “esforços extremos” para reprimir os incêndios.
- Crise ambiental “recorrente”
Os líderes políticos alertam que a atual crise ambiental não é responsabilidade apenas de Arce, mas que é um problema que já esteve também no tribunal de Morales.
“Isso é recorrente e todos os anos o governo é pego de cueca [sem planos] e depois declara desastre e emergência para buscar cooperação internacional diante da terrível destruição ambiental”, disse Jorge Quiroga, ex-presidente da Bolívia, ao imprensa no último sábado.
Quiroga, que liderou os destinos da Bolívia entre 2001 e 2002, descreveu Arce e Morales como “ecocidas” e ocupando cargos que classificou como “cínicos”.
“Estes dois senhores, que agora, na sua luta pela sigla MAS [Movimento ao Socialismo], deixam o país sobrecarregado, sem gasóleo nem gasolina, sem dólares e agora sem florestas”, disse Quiroga nos últimos dias.
Um estudo recente alertou que cerca de 34 cidades e 45 terras indígenas foram afetadas pelos incêndios. Os líderes comunitários acreditam que isto irá acelerar a extinção dos povos indígenas.
- Em que consistem as chamadas “leis incendiárias”?
Desde 2013, durante o governo de Evo Morales, entraram em vigor regulamentos para a expansão da fronteira agrícola, o que na visão do MAS, o partido no poder, ajudaria a “garantir a soberania alimentar”. No entanto, os ambientalistas alertaram que isso levaria à proliferação de incêndios florestais.
Estas disposições, catalogadas pelos detratores como “leis inflamatórias”, foram rejeitadas pelos ambientalistas, que explicam que, por exemplo, a Lei 337 promoveu a regularização de terras florestais através da emissão de aprovações para desmatamentos que foram realizados até 2011 e não foram autorizados.
Já a Lei 502 ampliou o desmatamento nas regiões, pois segundo seus dados, entre 2015 e 2023, foram desmatados 460 mil hectares de floresta e desses, apenas 40,8 mil foram para culturas alimentares. A Lei 741 autorizou pequenos e médios proprietários a desmatar até 20 hectares para atividades agrícolas e pecuárias, que também eram utilizadas para o tráfico de terras.
A Lei 1.171, por sua vez, concede indulto no pagamento de multa por queimada sem autorização.
A este pacote de leis soma-se o Decreto Supremo 3.973, que autoriza o desmatamento nos departamentos de Santa Cruz e Beni e estabelece a multa mais baixa da América Latina para o desmatamento, equivalente a 20 centavos por hectare afetado.
Em entrevista à VOA, o activista e líder do movimento Ríos de Pie, Jhanisse Vaca Daza, afirmou que actualmente está em curso um “ecocídio” na Bolívia.
“O governo tem responsabilidade direta não só por omissão, mas por ação e intencionalidade”, explicou. “Desde que essas leis foram aprovadas, elas não só ampliaram o número de hectares, mas estabeleceram indultos com multas mínimas, mas também incentivaram as queimadas como forma de limpar a terra durante a temporada do chaqueo”, aludindo a uma prática ancestral na Bolívia para se preparar. a terra para plantar ou criar gado.
Além disso, embora os incêndios em grandes quantidades tenham uma longa história, 2024 foi “o pior ano” desde que estes incidentes começaram a ser relatados. Por sua vez, o activista considerou que a capacidade e os planos de prevenção do governo “não evoluíram” desde então.
Fontes
editar- ((es)) Bolivia consumida por incendios abre el debate sobre polémicas leyes, 19 de setembro de 2024
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