15 de junho de 2016
Em tempos de crise econômica a grande preocupação do brasileiro é saber quais serão os próximos passos do governo para buscar uma saída. Mas esse é apenas o estágio final da conjuntura econômica; a parte mais importante é entender quais são os fatores que alteram a nossa economia para, a partir disso, compreender os passos dados pelo governo.
Um dos fatores mais importantes é a taxa de juros, conhecida como Selic. O Banco Central a define da seguinte maneira “É a taxa apurada no Selic, obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas”, ou seja, a taxa Selic é a taxa que define o piso de juros do país inteiro, servindo de referência para a economia brasileira.
Usada em aplicações financeiras feitas por bancos em títulos públicos federais, em empréstimos feitos entre os bancos e usada como referência para a cobrança de juros em empréstimos e financiamentos de clientes dos bancos. Ela é definida a cada 45 dias pelo COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil). Os diretores do banco central e do próprio Comitê reúnem-se e deliberam a respeito de manter, elevar ou abaixar o valor da Selic. A decisão mais recente sobre a taxa foi anunciada no dia 8 de junho de 2016. Foi a sétima vez consecutiva que o Comitê decidiu de forma unânime que a taxa deveria permanecer inalterada em 14,25%. Os 41 economistas e instituições consultados pela agência internacional Bloomberg já previam que a taxa permaneceria no mesmo valor.
Para entender a crise econômica no Brasil é necessário entender todo o cenário desde a crise mundial que eclode em 2008 e afetou grandemente as maiores economias do mundo como os Estados Unidos e países da Europa, por exemplo. Na época, o Brasil não sofreu grandes consequências de forma direta. Lula deixou seu mandato, em 2010, com crescimento na taxa do PIB, o que significou grande estímulo ao consumo e demanda de produtos. Apesar de ser um fator positivo, em um primeiro momento, a produtividade do país não acompanhava essa grande demanda e esse foi um dos primeiros sinais de que o cenário econômico não perduraria positivo nos próximos anos.
Em 2011, já no mandato da presidente Dilma Rousseff, os preços sobem e para manter a inflação sob controle o governo decide elevar a taxa de juros para mais de 12%. Contudo, há uma piora no contexto econômico mundial devido à desaceleração da economia chinesa e devido à isso o governo escolhe reduzir novamente a taxa básica de juros (Selic), cortando impostos e aumentando a despesa pública, aumentando, assim, a dívida, que já havia crescido de 51,3% para 57,2% em 2014, no final do primeiro governo de Dilma. Em 2015 a situação passa a ser crítica e essa dívida vai para 66,2%. Todos esses fatores combinados contribuíram para a atual crise econômica pela qual estamos passando.
Diante dessa situação, muito se foi discutido sobre o aumento ou declínio da taxa Selic, se manter ela alta da forma que está realmente ajuda a segurar a inflação como previsto na teoria, se ela realmente pode ajudar o país a sair da crise.
Para o doutor em economia e ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos, Roberto Luis Troster, a inflação está sim começando a cair por causa do aumento da taxa Selic. Ele indiciou que existe um parâmetro de comportamento da economia, que depende da relação crédito-PIB e da propensão que a sociedade tem com relação ao consumo e esse parâmetro é chamado de taxa neutra. De acordo com Troster, a taxa Selic deve ficar acima da taxa neutra para que os preços comecem a baixar. E ele diz que é justamente o que está acontecendo, apesar de não ser um efeito imediato. Em abril de 2015, o índice da inflação estava em 8,17%, e esse valor aumentou desde então, em janeiro chegando até 10,76%, mas a partir desse mês voltou a cair e o último valor divulgado, em abril de 2016 estava em 9,27%.
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—Roberto Luis Troster |
Com essa previsão de que a inflação deve cair nos próximos meses, ele afirma que o correto é segurar a Selic e que a taxa deve voltar a ser ajustada quando a inflação voltar a cair, já que a função do Banco Central não é fixar a taxa de juros e sim ajustar conforme a demanda. Do outro lado da visão positiva do doutor Roberto Luis Troster de que a Selic poderá baixar depois que a situação econômica do país melhor com a queda da inflação, o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Paulo Feldmann acredita que os recentes problemas apontados na situação econômica brasileira deixaram mais evidente que é necessário baixar a Selic para o país sair da crise.
Para Feldmann, a questão do desemprego é bastante demonstrativa com relação ao que uma taxa de juros alta está fazendo com a economia. Os últimos resultados divulgados no dia 31 de maio de 2016 pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios – Contínua mostra que em abril o desemprego atingiu 11,2% da população, valor que corresponde a 11,4 milhões de brasileiros. Esse número cresceu em 1,8 milhão de pessoas de janeiro a abril deste ano.
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—Paulo Roberto Feldmann |
O professor acredita que, ao invés de deixar a taxa de juros em um nível tão elevado quanto 14,25%, o valor deveria ser apenas um pouco acima da inflação prevista para o ano, assim como fazem outros países. Para comparar com a situação brasileira, podemos pegar o caso dos Estados Unidos em um período anterior a crise econômica de 2008. Em janeiro de 2006, a inflação do país estava em 3,6% e a taxa de juros em 4,5%, ou seja, um valor um pouco maior do que o índice de preços ao consumidor. Lembrando que atualmente a taxa de juros dos Estados Unidos está abaixo da inflação. Em abril de 2016, a inflação americana ficou em 1,125% e a taxa de juros atualmente está em 0,5%.
“Como a taxa de inflação prevista para o Brasil nos próximos meses é de 8%, 8,5%, eu diria que a taxa de juros deveria ser 9%” afirma Feldmann, alegando que esse seria o melhor cenário para voltar a atrair investimentos e fazer a economia brasileira sair da recessão. Apesar de ter afirmado em seu artigo para a Folha de São Paulo “Aumentar a Selic pode ajudar o país a sair da crise? Sim” que está ciente dos efeitos negativos que a Selic traz a curto prazo, como aumento da recessão, o doutor Roberto Luis Troster, disse no mesmo artigo que se trata de uma medida que traria benefícios a longo prazo porque combateria a inflação.
Enquanto isso, o professor Paulo Feldmann vai totalmente para o lado oposto, acreditando que o aumento da Selic - principalmente no nível que está - só piora a situação econômica, porque além de dificultar investimentos, aumentar o desemprego, também diminui o consumo e portanto a contribuição em impostos.
No entanto, apesar de não chegar no índice de 9% proposto por Feldmann, as projeções de economistas indicam que a Selic deve encerrar 2016 em 13,25% e economistas acreditam que ao fim de 2017, a taxa de juros deve chegar a 11,38%, de acordo com entrevistados pela revista Exame e Valor Econômico. Para determinar se a medida de manter a Selic alta pode realmente ser um “remédio amargo, mas necessário” como apontado por Troster, ou se a taxa deveria realmente cair para ajudar o país, apenas observando a situação econômica brasileira nos próximos meses.
Fontes
- Kelly Oliveira. Investimento estrangeiro direto na América Latina e Caribe cai 9,1% — Agência Brasil, 15 de junho de 2016
- Priscila Yazbec. Selic fica nos 14,25%; veja quanto R$ 5 mil rendem hoje [inativa] — Revista Exame, 8 de junho de 2016. Página visitada em 15 de junho de 2016
. Arquivada em 11 de junho de 2016
- Ana Conceição. Mercado ajusta inflação para cima e Selic para baixo em 2016 — Valor Econômico, 23 de maio de 2016
- Roberto Luis Troster. Aumentar a Selic pode ajudar o país a sair da crise? Sim — Folha de S.Paulo, 30 de maio de 2015
- Paulo Feldmann. Aumentar a Selic pode ajudar o país a sair da crise? Não — Folha de S.Paulo, 30 de maio de 2015
- Marcelo Ninio. EUA aumentam taxa de juros pela 1ª vez desde 2006 — Folha de S.Paulo, 16 de dezembro de 2015
- Celso Ming. O desemprego aumenta — Estadão, 31 de maio de 2016
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