10 de setembro de 2024

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Mais de 160 mil pessoas estão com as reservas esgotadas há seis meses em quatro distritos da província moçambicana de Manica e as estratégias de sobrevivência com recurso a alimentos silvestres estão a escassear devido à persistência da seca, agravando a insegurança alimentar.

A população e o Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (INGD) aumentaram apelos humanitários face à fome e à seca, numa altura que as estatísticas indicam que 3.3 milhões de pessoas poderão ser afetados pela insegurança alimentar entre outubro de 2024 e março de 2025, nas regiões centro e sul de Moçambique.

A crise alimentar agravou-se em 2024, com 33% da população a enfrentar níveis de insegurança alimentar aguda, contra 20% de 2023, segundo dados recentes divulgados pelo Programa Alimentar Mundial (PAM).

A seca, provocada pelo fenômeno El Niño, dizimou culturas e fracassou a campanha agrícola 2024, com muitas pessoas a ficarem sem alimentos ainda na fase de frágil colheita, segundo moradores.

“A fome aqui é grave. Já comemos tudo, até farelo, e precisamos de ajuda porque a produção agrícola foi um fracasso”, frisa Maria Pedro, mãe de nove filhos e residente de Tambara, o distrito com o maior número da população na fase de emergência alimentar.

As poucas estratégias de sobrevivência com recurso a frutas e tubérculos silvestres e o acesso ilimitado a água e outros meios de subsistência tendem a recrudescer.

“Isto é resultado do fenômeno El Niño, em todo o distrito de Tambara há problemas graves de falta de alimentos. Os charcos onde tiramos alimentos silvestres estão a secar”, acrescenta Mateus Tsamba, um morador local.

Apelos

O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres, que coordena ações humanitárias, lançou na semana passada um apelo humanitário no sentido de se mobilizar recursos para assegurar uma resposta humanitária face à seca e minimizar o sofrimento da população afetada.

Por seu lado, o responsável do Departamento de Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional em Manica, Dionísio Rapeque, apelou para a assistência humanitária urgente para salvar vidas, após um estudo recente indicar que muitas famílias entraram para o estágio mais crítico da insegurança alimentar.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) estima que a percentagem da população em risco de insegurança alimentar devido à seca subiu para 33% em 2024, e que 1,8 milhões de pessoas necessitam de ajuda em sete províncias de Moçambique.

Destes, 1,1 milhões de pessoas necessitam, atualmente, de assistência de emergência.

O fenómeno ‘El Niño’, prossegue o relatório do PAM, “induziu escassez de chuvas e temperaturas acima da média”, levando a “condições de seca no centro e sul de Moçambique” no último ano, prevendo “que 3,3 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar” no período de Outubro de 2024 a Março de 2025.

Paradoxo

Aquela agência das Nações Unidas debate-se com a escassez de recursos para executar o seu plano de apoio no terreno.

Do total de 170 milhões de dólares necessários para levar ajuda a 1,1 milhão de pessoas, o PAM tinha até este mês garantidos apenas 16 milhões de dólares.

Entretanto, o analista e político moçambicano Sande Carmona observa que a fome é cíclica em Moçambique e começou a matar pessoas este ano, contrariando as estatísticas governamentais sobre o acesso aos alimentos.

“Há pessoas a morrer por falta de alimentação. É inconcebível dizer que o país neste momento está a entrar numa situação difícil em relação à fome, enquanto num passado tão recente o ministro da agricultura disse que a população moçambicana tinha três refeições por dia”, refere Sande Carmona.

Em Moçambique, a seca ressente-se com maior impacto nas regiões Sul e Centro, sobretudo, em distritos com características áridas e semiáridas das províncias de Gaza e Inhambane (sul) e Tete, Manica e Sofala (centro).

Fontes

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