Brasil • 21 de janeiro de 2015

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O fim da intolerância religiosa e defesa da liberdade de expressão marcaram os debates do encontro de líderes religiosos hoje (21) na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, em uma parceria da entidade com a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (Ccir) e o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap).

No encontro, os líderes religiosos destacaram em uma carta que “a liberdade religiosa é um patrimônio social que precisa ser devidamente resguardado para que extremistas não cometam crimes em nome de Deus”. Ainda no documento pedem a criação de um Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. O babalaô Ivanir dos Santos, integrante do Ceap, disse que é o momento de promover a ética e a discussão responsável sobre o tema pela sociedade.

“Falam das responsabilidades dos dois segmentos que neste momento estão em evidência, que são os religiosos e a imprensa, das nossas responsabilidades de um espaço e diálogo comum para construir um Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, com intelectuais e todo mundo que quiser participar, inclusive aqueles que não concordam com a gente, porque têm direito de falar, mas em um foro apropriado. Não podemos ter medo do debate”, disse.

A pastora luterana Lusmarina Campos Garcia, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Rio de Janeiro, destacou que não se pode aceitar também atos de discriminação contra os muçulmanos, como estão acontecendo em várias partes do mundo, por serem identificados com os atos violentos praticados por extremistas islâmicos contra a sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris.

“Nem a liberdade religiosa, nem a liberdade de expressão podem ser instrumentalizadas para construções falsas. É preciso ter cautela neste momento. Nós precisamos tomar muito cuidado para não reforçar a construção que associa terrorismo ao Islã; construção esta que tem caráter político e interesse econômico. Muçulmano e terrorista não são duas palavras correspondentes”, disse, sendo muito aplaudida.

Para o diácono do Clero da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Nélson Augusto Águia, que representou o arcebispo dom Orani Tempesta na reunião, neste momento os religiosos devem ter um testemunho de harmonia, de paz e de misericórdia. “A gente tem que parar para pensar de como podemos dar este testemunho. A paz não vem pela polícia e nem pela política, [mas pelo] respeito, diálogo e compreensão. Tudo isso devemos praticar e ressaltar para que não fiquem na masmorra. O papa Francisco tem pedido muito respeito com todos os credos”,

O diretor cultural da ABI, Jesus Chediak, também defendeu a liberdade de expressão, mas ponderou que há critérios que devem ser observados. “Nada justifica metralhar pessoas. Isso é uma barbárie, mas, por outro lado, não se pode ridicularizar. Não vou bater palma para quem fazia isso. Na medida em que estou falando mal de um orixá, por exemplo, estou atingindo aquele grupo humano que acredita naquilo. Isso não é liberdade. É perder o limite”, disse.

Na avaliação da pioneira do movimento Hare Krishna no Brasil, e integrante da Ccir, Raga Bhumi Devi Dasi, a diversidade de religiões que existe no país precisa ser mais divulgada para ser mais entendida pela sociedade. “Para que a população comece a compreender que existe uma diversidade religiosa e que cada um tem a sua religião, assim como existem diferentes classes, raças, culturas, falamos línguas diferentes também. Cada religião deve ser respeitada em suas tradições e seus valores. Isso não invalida que a gente evolua mais”, disse.

O ato lembrou também que hoje é comemorado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, instituído por causa da morte da fundadora do terreiro de Candomblé Ilê Axé Abassá de Ogum, Gildásia dos Santos e Santos, em Salvador, na Bahia. A mãe de santo teve um acidente vascular cerebral (AVC), em 21 de janeiro de 2000, depois de ver o rosto dela na capa de uma publicação da Igreja Universal do Reino de Deus com a manchete “macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”.

Fontes