Mogadíscio, Somália • 23 de fevereiro de 2009

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Dois ataques suicidas contra tropas da paz em Mogadíscio, capital da Somália, ocorrido ontem, mataram 10 pessoas (5 soldados, 3 civis e 2 terroristas), contra a base da Missão da União Africana (UA).

Um militar ugandense da missão, que pediu para não ser identificado, disse à agência Efe que um dos dois suicidas, que carregava um cinto com explosivos, "fingiu ser um vendedor ambulante de bananas, atraindo vários soldados e, quando estavam perto dele, fez explodir a bomba".

Segundo a fonte, cinco soldados, dos quais não especificou se eram de Burundi ou Uganda, morreram e outros militares ficaram feridos, enquanto três civis que estavam nas proximidades também morreram, informação que não foi confirmada pelo porta-voz da UA em Mogadíscio.

Os outros dois mortos são os terroristas que detonaram os explosivos que carregavam quando entraram no prédio da antiga Universidade Nacional de Mogadíscio, utilizada atualmente como base do contingente militar burundinês da Amisom, disse por telefone à agência Efe o porta-voz do Shabab Sheikh Mukhtar Rowbow Ali.

Grupo

O porta-voz do Al-Shabab, grupo islâmico que luta contra o governo, Rowbow Ali, disse que o grupo assume o ataque. "Dois de nossos mártires detonaram seus explosivos contra os cristãos do Burundi enquanto assistiam à missa". Rowbow Ali explicou que um dos suicidas levava uma bomba amarrada à cintura e o outro transportava explosivos num automóvel, jogado contra as tropas burundinesas. Ali identificou os dois insurgentes como Ahmed Sheikhdon Sidow e Mursal Abdinoor Mohammed. Ainda segundo ele, "vários soldados morreram nas explosões".

No entanto, o porta-voz da missão de paz africana, capitão Berigye Ba-Hoku, desmentiu o Al-Shabab, e disse que as explosões foram de morteiro, mas não confirmou se houve baixas entre os soldados da Amisom.

Já testemunhas asseguraram que houve um ataque com carro-bomba, mas que o veículo explodiu "perto da base" da Amisom, e não dentro da mesma.

Sequestro

No mesmo dia dos ataques, na Puntlândia, região autônoma do nordeste da Somália, um grupo armado sequestrou um empregado estrangeiro de uma companhia mineira e seu tradutor somali, que iam de Bossaso, a capital regional, à localidade de Taleh.

Um comunicado do Ministério de Segurança de Puntlândia informou que o estrangeiro é de origem paquistanesa e com cidadania britânica, e que foi sequestrado junto com seu tradutor local depois que um grupo de 15 homens fortemente armados atacou o veículo no qual viajavam.

A Somália, devido à guerra civil há 18 anos, tornou-se um país de alto risco para trabalhadores estrangeiros, voluntários de organizações humanitárias e até jornalistas.

Na última quarta-feira, dia 18, um grupo somali pôs em liberdade as freiras italianas Caterina Giraudo e María Teresa Oliviero, sequestradas numa localidade do vizinho Quênia em 9 de novembro do ano passado.

No começo de janeiro, também foram soltos o jornalista britânico Colin Freeman e o fotógrafo espanhol José Cendón, que foram mantidos 39 dias no cativeiro na região de Puntlandia.

Histórico

A Somália vive em guerra civil desde início de 1991, quando grupos armados que lutaram desde 1978 para derrubar o ditador Mohamed Siad Barre (que governava desde 1969), não entraram em acordo para novo governo, se dividiram em clãs armados.

Entre 1992 a 1995, partes do país foi ocupado pelas tropas de paz da ONU, mas fracassaram na pacificação, quando os mesmos grupos voltaram se enfrentar.

Em 2000, após longos meses de negociação, os grupos permitiram a instalação do governo em 9 anos, mas os conflitos continuaram até o surgimento da guerrilha islâmica União dos Tribunais Islâmicos (UTI) em 2006, quando derrotaram os grupos de clãs e o governo, passando controlar maior parte do país, governando o país sob leis islâmicas, muito semelhante ao Taliban que governou o Afeganistão, derrubado do poder por forças dos Estados Unidos em 2001 após os “Atentados de 11 de setembro”, feito por terroristas ligados ao milionário saudita e refugiado no país afegão Osama Bin Laden, líder da Al-Caeda. Na época, a UTI foi acusada internacionalmente de ser financiada pela Al-Caeda, acusação que sempre negou.

Nova fase da guerra começou no final de 2006, quando tropas da Etiópia, dando apoio ao governo, invadiram Somália e derrotaram UTI. Após vencerem a UTC, as tropas etíopes conseguiram instalar o governo somaliano em 2007, mas ambos enfrentaram nova guerra, desta vez entre o governo, etíopes e os rebeldes islâmicos, do extinto UTC. Em agosto de 2008, as tropas de paz da União Africana chegaram no país, após vários atos de violência entre islâmicos e governo apoiado pela Etiópia. No mês passado, as tropas etíopes saíram do país. O Al-Shabab aproveitou a saída das tropas etíopes e conquistaram as cidades do centro e sul do país e ameaça a capital do país.

O Al-Shabab, que significa “A Juventude” em árabe, que surgiu em 2008, é parte da extinta União dos Tribunais Islâmicos (UTI), coalizão de organizações extremistas islâmicas que controlou a capital Mogadíscio, de 11 de junho até 28 de dezembro de 2006, quando foram desalojadas do poder por tropas do governo oficialmente reconhecido apoiadas por seus dois principais aliados, a vizinha Etiópia e os Estados Unidos.

Serviços de inteligência ocidentais consideram Al-Shabab uma organização ligada à rede terrorista Al Qaeda, mas a organização sempre negou a ligação.

Fontes