Agência VOA

25 de dezembro de 2022

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Hallaca de Navidad (Hallaca de Natal)

A ceia de Natal venezuelana é uma viagem não só pela memória gustativa do país, mas também é um pedaço de cada uma das culturas que se misturaram desde os tempos da independência até as ondas migratórias que se instalaram na Venezuela, fugindo dos conflitos bélicos. Numa massa de milho juntam-se 10 ingredientes que dão origem ao protagonista deste prato típico da noite de Natal: a hallaca, uma pamonha coberta com folhas de bananeira que envolve sabores e memórias.

Hallaca sendo embalada na folha de bananeira

Na nação do petróleo, é tradição que em dezembro as famílias se reúnam em frente a uma mesa para fazer essa iguaria. "O preparo da hallaca é tudo. É remontar à infância, ao encontro com os primos, com os avós. Toda essa festa que acontece em torno da hallaca", diz Matilde Rico, uma administradora de Caracas, dedicada à gastronomia.

Rico acompanha a feitura da hallaca desde os 9 anos, quando aprendeu a prepará-la com a mãe. Hoje ela os faz não só em dezembro, mas durante todo o ano, para oferecê-los a quem mora fora da Venezuela e volta a visitá-los. "Se eles vêm em fevereiro, março ou abril, eles têm que encontrar hallacas para comer. Eles têm que encontrar alguém que lhes dê a oportunidade de redescobrir os sabores de sua infância", disse Rico.

Uma fatia de pão de pernil, um pedaço de carne de porco e a chamada “salada de galinha”, que é comumente preparada com frango, juntam-se o mesmo prato para o que se chama “multisapida”. “No nosso prato de Natal temos uma série de coisas que fomos incorporando mais recentemente porque temos uma amplitude e uma abertura para o novo. Estamos muito curiosos para experimentar, incorporar as coisas e 'venezuelar' as coisas", disse a antropóloga Ocarina Castillo, fundadora da cadeira de Antropologia dos Sabores da Universidade Central da Venezuela e do Diploma em Alimentos e Cultura na Venezuela.

“No nosso prato de Natal não estão apenas as três matrizes que nos formaram como sociedade e nação: o indígena, o europeu e depois o africano. Depois das sucessivas migrações que desde os tempos coloniais até recentemente nos visitaram, cada uma delas foi nos deixando sabores, componentes e riquezas que fomos incorporando", disse Castillo.

Embora o preço dos produtos que são servidos no Natal tenham aumentado 41% em relação ao ano passado, segundo o Observatório de Finanças da Venezuela, centenas de famílias fazem sacrifícios para evitar que a crise econômica tire essa oportunidade de compartilhar com seus entes queridos."Se tiver que reduzir um pouco, reduz, mas estamos sempre compartilhando, que é o importante", disse Daniel Gutiérrez, um venezuelano que fazia compras num supermercado.

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