11 de abril de 2008

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Discutir segurança alimentar sem ter sua terra reconhecida é a tarefa de Iranilde Barbosa, indígena da etnia Macuxi que vive na reserva Raposa Serra do Sol, no estado de Roraima. Ao participar hoje (11) do segundo dia da Conferência Especial pela Soberania Alimentar, pelos Direitos e pela Vida, em Brasília, ela disse que a situação “precária” em que vivem os índios da América Latina e do Caribe torna difícil assegurar o direito à alimentação.

“Temos indígenas que estão trabalhando nas grandes plantações de cana-de-açúcar e de arroz como escravos. Eles só têm a perder com isso. O que eles [os proprietários das terras] querem são os índios que estão com saúde. Depois que adoecem, eles demitem”, afirmou ela.

Iranilde lembrou que a terra indígena Raposa Serra do Sol foi homologada em 2005, mas a luta pela titulação da área e pela retirada dos arrozeiros da região permanece ainda hoje.

“Nossa terra, mesmo quando é homologada, é invadida pelos não-indígenas que plantam grande quantidade de acácia e de arroz, o que nos impede de trabalhar. Não podemos ter uma vida saudável porque, se não tivermos a terra, não vamos ter alimentação ou moradia.”

Ela contou que, por causa do conflito na região, vários indígenas acabam migrando para as cidades mais próximas, onde a maioria vira mendigo e passa necessidades.

“Somos o povo que está mais vulnerável a essas condições, porque o governo não dá subsídio para que a gente possa construir, plantar ou ter uma alimentação saudável. Já os grandes latifundiários têm esse apoio do governo e dos bancos .”

Os índios de Raposa Serra do Sol, segundo Iranilde, vivem em um pedaço de terra que, além de disputado por muitos, não oferece a possibilidade de métodos tradicionais de subsistência para o povo Macuxi, como a caça e a pesca.

“Roraima é um dos estados da Região Norte que tem a maior área de terras indígenas. O governo tem que tirar aquelas pessoas [não-índios] de lá para que a gente possa trabalhar e ter a nossa alimentação. Esse povo trouxe mal para nós, levou bebida, doenças e muita desunião dentro da nossa pobre comunidade. Não é que a gente não queira trabalhar, mas como vamos trabalhar em um local onde a gente não tem paz nem segurança?”

Fontes