16 de outubro de 2024

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Uma nova pesquisa indica que o X, antigo Twitter, ultrapassou o WeChat, a plataforma de rede social chinesa mais popular, na disseminação de desinformação sobre as eleições presidenciais e políticas dos EUA.

O grupo Chinese for Affirmative Action (CAA), uma organização sem fins lucrativos sediada nos EUA, divulgou um relatório em 26 de agosto de 2024, chamado “Conspiracy Theories, Lies, & A.I.” que explora como a desinformação de direita na comunidade chinesa americana está amplificando o discurso de ódio antes das eleições de novembro de 2024. Pesquisadores descobriram que grande parte da desinformação divulgada no ano passado tem como objetivo atiçar o medo do comunismo, lançar dúvidas sobre a integridade das eleições nos EUA e elogiar o ex-presidente dos EUA Donald Trump, o candidato presidencial republicano de 2024.

As eleições presidenciais de 2024 nos EUA serão realizadas em 5 de novembro. Antes das eleições, surgiram consistentemente notícias sobre a influência política estrangeira na política americana, em especial da Rússia, do Irã e da China, por meio de operações de desinformação. No mês passado, o governo dos EUA acusou a Rússia de realizar uma campanha de desinformação para enganar os eleitores americanos e interferir nas eleições. Os pesquisadores da Human Rights Watch também observaram que as comunidades de cor são mais vulneráveis às operações de desinformação devido às experiências traumáticas que compartilham. Além disso, como muitos imigrantes obtêm informações em outros idiomas, que não o inglês, são frequentemente submetidos a erros de tradução das notícias.

A pesquisa recente da CAA, baseada em 628 peças de informações de desinformação coletadas entre 10 de junho de 2023 e 29 de julho de 2024, por meio do PiYaoBa, um site de verificação de fatos em língua chinesa, faz observações semelhantes.

De acordo com o relatório, cerca de um terço da desinformação documentada (228 artigos), com 4,05 milhões de visualizações no total, são diretamente sobre as eleições presidenciais dos EUA de 2024. Elas são disseminadas principalmente pelo X/Twitter (48%), seguido pelo WeChat (25%), Telegram (18%) e YouTube (9%). A CAA destacou que, pela primeira vez desde que começou a rastrear a desinformação chinesa em 2019, o X ultrapassou o WeChat na disseminação da desinformação eleitoral dos EUA. De fato, durante as eleições de meio de mandato de 2022, mais de 54% das notícias falsas foram disseminadas no WeChat.

O X também se tornou a fonte de desinformação mais impactante em todas as plataformas, com a maior média de 26.320 visualizações por peça de desinformação, seguido pelo WeChat (18.590 visualizações), YouTube (5.690 visualizações) e Telegram (2.640 visualizações).

Desinformação das eleições de 2024 por artigos e plataforma

Twitter 108 48,2 % WeChat 57 25,4 % Telegram 40 17,9 % YouTube 19 8,5 %

Informação relativa à captura de tela do relatório da CAA da desinformação das eleições de 2024 por plataforma

O aumento da desinformação em chinês no X ocorreu depois que Elon Musk adquiriu a plataforma em 27 de outubro de 2022. Como proprietário, ele mudou as políticas de moderação de conteúdo da plataforma para restaurar contas banidas anteriormente, que foram suspensas por ameaças, assédio e disseminação de desinformação; alterou a marca de verificação azul da plataforma para um recurso pago ; encorajou postagens pagas e virais, incluindo conteúdo sexual explícito e muito mais. A CAA também descobriu que muitos influenciadores da China continental migraram do WeChat graças às políticas de censura da China e se estabeleceram no X nos últimos anos, enquanto os que permaneceram no WeChat tendem a citar informações do Twitter, principalmente de influenciadores de direita.

Abaixo estão cinco principais narrativas de desinformação que a CAA identificou sobre a eleição de 2024 nas redes sociais em língua chinesa. Essas visões também são amplamente compartilhadas entre grupos de direita dos EUA:

1. Trump é o único salvador dos EUA, e os problemas de hoje são porque ele não está no comando

Esta narrativa descreve Trump como um defensor heroico dos valores americanos enfrentando perseguição injusta encenada pelo chamado “estado profundo”. Desde a tentativa de assassinato de Trump em 13 de julho de 2024, sua imagem de “salvador” foi fortalecida. A CAA cita uma postagem de @CaoChangqing, um influenciador sino-americano de direita, como um exemplo desta narrativa:


As tropas dos EUA na Jordânia foram atingidas por um ataque de drone hoje, matando três pessoas e ferindo mais de 20. Na última vez em que nos retiramos do Afeganistão, 13 soldados americanos foram mortos em combate. Desde que Biden roubou a eleição e assumiu o poder, tem havido um caos global: Guerra na Ucrânia, conflito militar em Gaza, ataques armados a navios mercantes no Iêmen, Coreia do Norte lançando um teste nuclear, Irã bombardeando o Paquistão e, agora, ataques diretos às tropas dos EUA. Tudo relacionado à incompetência e ao fracasso da diplomacia de Biden. Somente o retorno de Trump à Casa Branca ajudará a acabar com o caos mundial e a restaurar a esperança!

   — 曹長青 (@CaoChangqing) 28 de janeiro de 2024


2. As políticas de “extrema esquerda” de Biden, Harris e do Partido Democrata estão destruindo os EUA e aproximando o comunismo

Essa narrativa ataca o atual presidente dos EUA, Joe Biden, a vice-presidente Kamala Harris e o Partido Democrata por todos os problemas econômicos e sociais e os acusa de conduzir o país ao socialismo e ao comunismo ao incentivar protestos estudantis, políticas de inclusão, direitos LGBTQ+ etc. Abaixo está um exemplo, também de @CaoChangqing, citado no relatório:


Os estudantes antissemitas e pró-Hamas nas universidades americanas estão sendo chamados de “Ha wei bing – soldados pró-Hamas”, lembrando a Revolução Cultural da China. De fato, o movimento esquerdista radical nos Estados Unidos é mais parecido com a Revolução Francesa, marcada pela guilhotina. Essencialmente, é um movimento de multidão apoiado por intelectuais de esquerda e pelo Partido Democrata. Sob o pretexto do politicamente correto, eles atropelam o estado de direito e o bom senso, perseguem oponentes políticos e criam terror. Os Estados Unidos foram fundados há apenas 248 anos, nem mesmo há tanto tempo quanto a dinastia Qing, e já chegaram a esse ponto. É triste!

pic.twitter.com/JVcWJq6hpW
   — 曹長青 (@CaoChangqing) April 24, 2024

Embora a maioria das desinformações em língua chinesa possam encontrar suas origens em inglês em plataformas de direita, muitas vezes, os influenciadores chineses exploraram o trauma cultural e político dos chineses americanos do continente em suas traduções. No post acima, o enquadramento de manifestantes estudantis em “Ha wei bing” evoca as memórias dos leitores chineses de “Hong wei bing” ( Guardas Vermelhos ) durante a Revolução Cultural Chinesa — uma violenta luta de classes popular liderada pelo Partido Comunista Chinês entre 1966 e 1976 que ceifou a vida de mais de um milhão de pessoas.

3. O governo Biden abriu a fronteira para permitir que imigrantes sem documentos votassem nos democratas nas eleições de 2024

Esta narrativa foi retirada diretamente de fontes inglesas que acusam falsamente Biden de abrir intencionalmente a fronteira dos EUA para permitir a entrada de migrantes, para que eles possam votar em novembro e, a longo prazo, “ substituir ” a população branca.

O relatório da CAA destacou que muitos imigrantes chineses acreditam que a documentação de imigrantes sem documentos estão sendo aceleradas para obtenção de permissões de trabalho à custa dos imigrantes que chegaram por meio de vistos. 4. Os esquerdistas são os cérebros por trás de vários eventos mundiais e desastres naturais e estão jogando um jogo longo para controlar tudo

Essa narrativa vê todos os principais eventos mundiais, desde a invasão russa na Ucrânia até os desastres naturais, como conspirações de esquerda, com os democratas usando o rótulo de esquerda. Essa narrativa se prolifera por meio de comentários sobre a tentativa de assassinato de Trump.

Embora o significado de “esquerda” nos EUA e em outros países ocidentais seja mais neutro, nas comunidades de língua chinesa, “esquerda” geralmente significa o modelo econômico coletivo soviético. Isso repercutirá negativamente em alguns imigrantes da China continental que se estabeleceram nos EUA entre as décadas de 1960 e 1980, que sofreram trabalho forçado ou foram perseguidos pela luta de classes sob a liderança de Mao Tsé-Tung, que foi fortemente influenciada pelo comunismo soviético.

5. A eleição de 2020 foi roubada de Trump e a fraude eleitoral generalizada, especialmente envolvendo não cidadãos, pode levar a outra eleição roubada em 2024.

Essa narrativa lança dúvidas e deslegitima os resultados da eleição de 2024, uma vez que Trump perca a disputa. O relatório da CAA enfatiza:


Essa tática não apenas mina a confiança no processo democrático, mas também exacerba a polarização política, especialmente dentro da comunidade de língua chinesa, onde contextos culturais e históricos podem tornar essas narrativas mais ressonantes.

Além das narrativas acima, a pesquisa também observou que, depois que a vice-presidente Kamala Harris substituiu Joe Biden como candidata do Partido Democrata, influenciadores de direita aproveitaram o preconceito de gênero entre os chineses conservadores, espalhando comentários sexistas e misóginos que sugeriam que Harris alcançou sucesso político obtendo favores sexuais:


Embora ela tenha sido rotulada como uma “mulher-gato sem filhos” na mídia inglesa, os influenciadores chineses a apelidaram de “乌鸡” ou “Black Chicken”, sendo “chicken” uma gíria humilhante para uma profissional do sexo em chinês. Ou a chamam de “小三”, que significa “destruidora de lares”, em alusão a seus relacionamentos anteriores.

O rótulo “Galinha Preta” também carrega uma conotação racial discriminatória contra pessoas de cor, destacou um usuário chinês X @ Stephanan2584 .

A equipe de pesquisa também observou uma tendência crescente de desinformação eleitoral gerada por IA circulando entre usuários de rede social chineses. Uma imagem citada no relatório da CAA é uma foto gerada por IA sugerindo que Trump era muito popular entre os eleitores negros, com usuários alegando que ele compareceu a um churrasco no South Bronx, em Nova York, em 23 de maio de 2024. Uma pesquisa de agosto de 2024 do Pew Research Center mostra que apenas 13% dos eleitores negros nos EUA estão se inclinando para Trump:


Esta imagem gerada por IA representa Trump e o amor que ele viu ao realizar seu comício no Bronx, em Nova York.

   — Suhr Majesty ™ (@ULTRA_MAJESTY) May 25, 2024

As descobertas da CAA estão alinhadas com outro relatório recente escrito pela Graphika, uma empresa de pesquisa sobre o cenário das redes sociais. O relatório identificou uma pequena rede de 15 personas falsas de rede social vinculadas ao estado chinês no X e uma no TikTok alegando ser cidadãos ou ativistas dos EUA e disseminando conteúdo que difama candidatos democratas e republicanos e amplifica divisões políticas e sociais sobre políticas. A equipe de pesquisa também acredita que a operação de informações visa “retratar os EUA como uma potência global em declínio com líderes fracos e um sistema de governança falho”.

Fontes

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