Brasil • 4 de novembro de 2005

Na Wikipédia há um artigo sobre Escândalo do mensalão.
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O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, apresentou quinta-feira (3) uma conclusão parcial da investigação nos contratos entre a empresa de Marcos Valério DNA Propaganda e a Visanet, empresa cujo principal acionista é o Banco do Brasil (BB). Durante entrevista colectiva Serraglio disse que identificou R$ 10 milhões que foram repassados por Valério do Banco do Brasil para o Partido dos Trabalhadores (PT).

A Visanet, criada em novembro de 1995, é uma empresa privada que se relaciona com estabelecimentos comerciais que trabalham com os cartões Visa. Seus principais donos são o banco Bradesco e Banco do Brasil. O capital da empresa é distribuído da seguinte forma: 4,73% pertencem a vários bancos, 10% pertencem à Visa Internacional, 14,28% ao ABN Amro Bank, 31,99% ao Banco do Brasil e 38,97% ao Bradesco.

Serraglio contou que a partir de 2003 o BB passou a concentrar os recursos da Visanet na DNA, empresa de publicidade de Valério.

De forma atípica, o banco começou a permitir também o adiantamento das verbas em relação ao contrato. Em 2003 foram adiantados aproximadamente R$ 23,3 milhões à DNA e em 2004 mais R$ 35 milhões, totalizando R$ 58,3 milhões. Serraglio disse que o dinheiro pago antecipadamente à DNA foi direcionado "visivel e comprovadamente a interesses políticos". Segundo o relator há uma pendência de pelo menos R$ 9 milhões, ou seja, nenhum serviço foi prestado.

Como funcionou o esquema de repasses de 10 milhões do Banco do Brasil para o Partido dos Trabalhadores, segundo a CPI dos Correios.

Segundo as investigações da CPI, baseadas em auditorias que foram requisitadas ao Banco do Brasil, a Visanet depositou R$ 35 milhões na conta da DNA no Banco do Brasil, em 12 de março de 2004. Em 15 de março, a DNA fez uma aplicação financeira, também no Banco do Brasil, no valor de R$ 34 867 000,00. Em 22 de abril a DNA transferiu R$ 10 milhões de sua conta para o Banco BMG, sendo o próprio banco o favorecido.

Em 26 de abril o BMG concedeu um empréstimo de R$ 10 milhões a Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda, empresa cujo um dos sócios é Marcos Valério. Os avalistas desse empréstimo foram Rogério Tolentino, Marcos Valério e uma aplicação financeira da DNA junto ao BMG.


Segundo as declarações anteriores de Marcos Valério à CPI dos Correios, esse dinheiro corresponderia ao empréstimo realizado para o PT.

"Houve intencionalmente o direcionamento de R$ 10 milhões para o PT", declarou o relator.

O relator disse que não se pode dizer se o BMG tinha conhecimento do esquema. Serraglio disse segundo a Agência Câmara de notícias: "As coisas podem ter sido previamente desenhadas em um sentido já muito claro de desvio dos recursos desde o Banco do Brasil até chegar ao Partido dos Trabalhadores, mas duas coisas precisam ser esclarecidas: se nessa operação o BMG tinha ou não ciência ou se apenas foi utilizado como alguém que esquentaria esse dinheiro, que estaria sendo desviado."

O relator da CPI disse que a quantia desviada ainda pode ser maior e superar os R$ 55 milhões que Marcos Valério alega ter repassado ao PT.

Mudanças nos contratos vieram na gestão Pizzolato

Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, durante depoimento na CPI dos Correios, no Senado. Foto: José Cruz/ABr.

A CPI dos Correios informou que as mudanças nos contratos de marketing da Visanet começaram quando Henrique Pizzolato assumiu a diretoria do Banco do Brasil, em 2003.

A publicidade da Visanet era feita por três agências de publicidade entre 2001 e 2002. Com a gestão Pizzolato, a DNA de Marcos Valério ficou a única responsável por todas as campanhas de marketing da Visanet.

Além dessa alteração nos contratos de marketing, o Banco do Brasil passou a autorizar o pagamento antecipado. Essa autorização foi assinada pelos dois directores e gerentes-executivos do Banco do Brasil: Henrique Pizzolato, Fernando Barbosa de Oliveira (diretor de Varejo), Douglas Macedo e Cláudio de Castro Vasconcelos.

Henrique Pizzolato foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e fez parte da equipe de transição do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Era homem de confiança de Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação e Estratégia da Presidência, e amigo do atual Presidente do PT, Ricardo Berzoini.

Ex-dirigente da CUT do Paraná [1], organização sindical vinculada ao PT, em 1998 Pizzolato foi director da Seguridade da Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil e maior fundo de pensão da América Latina em patrimônio). Em 2002, deixou o cargo que ocupava no Banco do Brasil para trabalhar na campanha de Lula. Com a vitória de Lula, voltou ao Banco do Brasil onde ocupou o cargo de director de marketing e comunicação da instituição até pedir a sua aposentadoria em 13 de julho deste ano.

Pizzolato autorizou o Banco do Brasil a comprar R$ 70 mil em ingressos para um show de 2004 da dupla brasileira de música sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano na churrascaria Porcão. A arrecadação foi revertida para o PT que usaria o dinheiro na construção de uma nova sede.

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