28 de abril de 2025

Ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov
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Moscou insiste no reconhecimento internacional de seu domínio sobre a Crimeia, bem como sobre a totalidade das regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhya e Kherson, como condição para as negociações de paz, afirmou o Ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, em entrevista ao jornal brasileiro O Globo.

Essa demanda, reforçada na semana passada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ressalta como a Rússia continua a impor suas demandas maximalistas, apesar dos esforços dos EUA para mediar um acordo de paz.

A Rússia declarou ilegalmente as quatro regiões ucranianas como anexadas em 2022, após referendos fraudulentos amplamente condenados, mas não controla totalmente os territórios. A Crimeia, ocupada pela Rússia desde 2014, também foi incluída nas reivindicações territoriais de Moscou.

Os EUA estariam considerando o reconhecimento de jure do controle da Rússia sobre a Crimeia como parte de um potencial acordo de paz e o controle de fato sobre outros territórios ocupados. Ao mesmo tempo, autoridades americanas teriam rejeitado a exigência de retirada completa da Ucrânia das outras quatro regiões.

Questionado sobre as condições da Rússia para iniciar negociações de paz, Lavrov também mencionou a proibição da entrada da Ucrânia na OTAN, a desmilitarização do país e mudanças na legislação ucraniana que restaurariam a posição da língua, cultura e organizações religiosas russas.

Essas condições são, na prática, as mesmas das exigências iniciais apresentadas por Moscou no início de sua invasão em larga escala da Ucrânia.

Lavrov também afirmou que a proibição da Ucrânia às negociações diretas com o presidente russo, Vladimir Putin, deve ser suspensa. Anteriormente, o Kremlin afirmou que Putin estaria pronto para iniciar negociações com Kiev sem "quaisquer pré-condições" assim que essa restrição fosse suspensa, aparentemente contradizendo as declarações posteriores de Lavrov.

A Ucrânia descartou a possibilidade de ceder seu território como parte de qualquer acordo de paz, e tanto Kiev quanto seus aliados rejeitaram as exigências de redução das Forças Armadas Ucranianas.

"Todos os compromissos de Kiev devem ser legalmente garantidos, ter mecanismos de execução e ser permanentes", continuou Lavrov, acrescentando que a Rússia também exige o levantamento das sanções ocidentais, a revogação de processos internacionais e mandados de prisão contra autoridades russas, e a devolução de ativos russos congelados.

Governos ocidentais já começaram a usar o dinheiro vinculado a esses ativos para apoiar a Ucrânia. Em outubro de 2024, o Grupo dos Sete (G7) aprovou quase US$ 50 bilhões em empréstimos para Kiev, a serem pagos com juros auferidos sobre fundos russos congelados.

Além disso, Lavrov afirmou que Moscou exigirá "garantias de segurança confiáveis" da OTAN, da União Europeia e de seus Estados-membros contra supostas ameaças futuras nas fronteiras ocidentais da Rússia.

Lavrov afirmou que a Rússia permanece aberta a negociações, mas afirmou que "a bola não está do nosso lado", acusando Kiev de falta de "vontade política para a paz". Ele também acrescentou que os EUA "começaram a entender melhor" as posições da Rússia, insinuando a mudança na política externa promovida pelo presidente americano, Donald Trump.

Já se passaram mais de 45 dias desde que a Ucrânia aceitou o cessar-fogo de 30 dias proposto pelos EUA, introduzido pela primeira vez em março. Moscou rejeitou o plano, exigindo a suspensão total da ajuda militar ocidental à Ucrânia.

Apesar de afirmar apoiar a distensão, a Rússia continuou as operações ofensivas ao longo das linhas de frente. Moscou também intensificou seus ataques à infraestrutura civil, matando recentemente 13 pessoas em um ataque a Kiev em 24 de abril.

Enquanto isso, um cessar-fogo parcial separado, abrangendo a infraestrutura energética da Ucrânia, negociado durante negociações na Arábia Saudita no final de março, também foi repetidamente violado.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, a Rússia violou a trégua energética mais de 30 vezes desde que ela entrou em vigor em 25 de março, atingindo infraestruturas energéticas críticas em todo o país.

Fontes

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