Panamá nega anúncio dos Estados Unidos de que seus navios podem transitar pelo Canal sem pagar, reitera Marco Rubio
6 de fevereiro de 2025
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O presidente panamenho, José Raúl Mulino, chamou de "intolerável" a declaração do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre a isenção de pagamento a seus navios no Canal do Panamá. Ele conversaria com Donald Trump nesta sexta-feira.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, confirmou na quinta-feira que "parece absurdo" para ele que os navios dos Estados Unidos tenham que pagar taxas para transitar pelo Canal do Panamá, em resposta ao presidente panamenho que negou anteriormente que esses navios já possam transitar pelo mar sem pagar pedágios, como o governo Trump afirmou no dia anterior.
"Não estou confuso sobre o Panamá. Tivemos conversas. Senti que eram passos iniciais sólidos. Temos expectativas", disse Rubio durante uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente da República Dominicana, Luis Abinader.
Rubio, que visitou o Panamá como primeira parada na turnê pelos países da região e se reuniu com o presidente José Raúl Mulino, disse que os Estados Unidos "têm a obrigação do tratado de proteger o Canal do Panamá se ele for atacado".
"Essa obrigação do tratado teria que ser aplicada pelos militares dos Estados Unidos", disse Rubio.
A reação do secretário de Estado dos Estados Unidos ocorre horas depois que o presidente Mulino negou que isenções tenham sido concedidas para a passagem de navios dos Estados Unidos pelo Canal e considerou a declaração do Departamento de Estado, que afirmava que, "simplesmente e simplesmente intolerável".
"Hoje, o Panamá apresenta ao mundo, através de vocês, minha absoluta rejeição de que continuemos a explorar a maneira de administrar o relacionamento bilateral com base em mentiras e falsidades", disse Mulino na quinta-feira.
O presidente, que se encontrou com Rubio durante sua visita ao Panamá nos últimos dias, disse que ficou "muito surpreso" com a declaração dos Estados Unidos.
Diante dos jornalistas, Mulino disse que, como presidente, não tem poder legal ou constitucional para influenciar as questões de fixação de pedágios para o Canal do Panamá.
O artigo 76 da Lei da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), além do artigo 319 numeral 2 da Constituição Política, estabelece claramente que nem o governo nem a Autoridade podem isentar do pagamento de pedágios, direitos ou taxas pela prestação de serviços do Canal, disse ele.
Mulino relatou mais tarde por meio de sua conta X que havia sido informado por um alto funcionário que conversaria com Trump na tarde de sexta-feira.
"Eles estão fazendo uma declaração importante e institucional da entidade que governa a política externa dos Estados Unidos sob o presidente dos Estados Unidos com base em uma falsidade e isso é intolerável", enfatizou o presidente.
Também na quarta-feira, os responsáveis pela hidrovia transoceânica negaram a declaração dos Estados Unidos.
A Autoridade do Canal, uma agência autônoma supervisionada pelo governo panamenho, disse que não fez nenhuma alteração na cobrança de pedágios ou taxas para cruzar o canal em um comunicado que disse ser uma resposta direta às reivindicações dos Estados Unidos.
De acordo com Washington, a renúncia aos pagamentos do Canal economizaria milhões de dólares por ano para os Estados Unidos. "O governo do Panamá concordou em não cobrar mais taxas dos navios do governo dos Estados Unidos por transitarem pelo Canal do Panamá", disse o Departamento anteriormente em um post no X.
Analistas dizem que a recusa do conselho do canal e sua alegação de que não oferece tratamento preferencial a nenhuma nação podem aumentar as tensões bilaterais depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insistiu em recuperar o controle da passagem.
"Com responsabilidade absoluta, a Autoridade do Canal do Panamá, como indicou, está em posição de estabelecer um diálogo com as autoridades relevantes dos Estados Unidos sobre o trânsito de navios de guerra daquele país", respondeu a Autoridade do Canal.
O Panamá se tornou a mira do governo Trump. O presidente acusou o país centro-americano de cobrar taxas excessivas pelo uso de sua travessia comercial, uma das mais movimentadas do mundo.
"Se os princípios, tanto morais quanto legais, desse gesto magnânimo de doação não forem seguidos, exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido a nós, em sua totalidade e sem questionamentos", disse Trump no mês passado.
Trump também afirmou repetidamente que o Panamá cedeu o controle do canal à China, algo que os governos panamenho e chinês negam.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, reuniu-se com o presidente panamenho, José Raúl Mulino, no início desta semana, como parte de uma viagem à América Central, na qual Mulino prometeu retirar o país da Iniciativa do Cinturão e Rota da China.
Mulino também rejeitou repetidamente as propostas de Trump para que os Estados Unidos retomassem o controle do canal, que construiu e administrou em grande parte por décadas.
No entanto, os Estados Unidos e o Panamá assinaram dois acordos em 1977 que abriram caminho para que o canal voltasse ao controle total do Panamá. Os Estados Unidos o entregaram em 1999, após um período de administração
Uma equipe da Voz da América foi às ruas para conhecer as reações dos panamenhos a este novo incidente entre os dois países.
"Por que os americanos não vão pagar? Nós, panamenhos, temos que pagar para ir ao Canal, para ir às suas instalações turísticas", disse uma mulher panamenha. Por que eles não vão pagar se têm mais dinheiro do que o Panamá?
Outra jovem panamenha pediu ao presidente José Raúl Mulino que mantenha sua posição de rejeição expressa pelo presidente na quinta-feira.
"O Panamá tem que ser respeitado e também sinto que é uma falta de respeito por parte do governo dos Estados Unidos fazer tal comentário e espero que o presidente [do Panamá] mantenha sua abordagem", disse ele.
Outras pessoas consultadas pediram a Mulino para "não ser brando" com o governo.
"[O governo de Mulino] tem que manter sua posição estável, que somos soberanos e que a posição soberana sobre o que é o Canal do Panamá é diretamente nossa. Não podemos ser brandos ou ter concessões com ninguém", disse outro panamenho esta manhã na Cidade do Panamá.
Fontes
editar- ((es)) Voz da América. Panamá niega anuncio de EEUU de que sus buques pueden transitar por Canal sin pagar, Marco Rubio lo reitera — VOA, 6 de fevereiro de 2025
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