5 de outubro de 2024
As alterações climáticas estão transformando de maneira acelerada uma região do mundo que abriga milhões de pessoas.
De acordo com uma análise recente da equipa científica da Nasa sobre a alteração no nível do mar, nos próximos 30 anos, nações insulares do Pacífico como Tuvalu, Kiribati e Fiji experimentarão um aumento de pelo menos 15 centímetros no nível do mar, independentemente das mudanças nas emissões de gases de efeito estufa.
Este estudo foi realizado a pedido de vários países insulares do Pacífico, como Tuvalu e Kiribati, em estreita colaboração com o Departamento de Estado dos EUA. Além disso, a NASA elaborou mapas de alta resolução que identificam as zonas vulneráveis às inundações por marés altas, conhecidas como "inundações em dias ensolarados" ou "inundações incômodas", e que mostram os cenários para o ano 2050.
"O nível do mar continuará aumentando durante séculos, causando inundações mais frequentes", afirmou Nadya Vinogradova Shiffer, diretora de programas de física oceânica da Divisão de Ciências da Terra da NASA. "A nova ferramenta de inundações da NASA mostra como a frequência e a gravidade das inundações podem aumentar para as comunidades costeiras das nações insulares do Pacífico nas próximas décadas", acrescentou.
Esta equipa de cientistas, liderada por pesquisadores da Universidade do Havai e em colaboração com cientistas da Universidade do Colorado e Virginia Tech, começou com mapas de inundações de Kiribati, Tuvalu, Fiji, Nauru e Niue, com planos de estender esses estudos para outras ilhas no futuro. Esses planos serão essenciais para ajudar as nações insulares a decidir como e onde concentrar seus esforços de mitigação.
- O limiar crítico
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) adverte que há 50% de probabilidade de que o aquecimento global supere 1,5 graus Celsius nos próximos anos, o limite estabelecido no Acordo de Paris em um pacote de medidas para lutar contra as alterações climáticas.
Ramón Cruz, Presidente do Sierra Club, uma das organizações mais antigas e influentes dos Estados Unidos, ressaltou em entrevista à La Voz de América que se "passar dos 2 graus Celsius seria algo catastrófico".
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, um organismo também dependente da ONU, já assinalou que só uma ação rápida e drástica evitaria um dano irreversível ao planeta. O objetivo: não ultrapassar o aumento de 1,5 Celsius.
"Este relatório é uma chamada de atenção para acelerar maciçamente os esforços climáticos de todos os países e todos os setores e em todos os prazos", advertiu António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
A terra está se aquecendo cada vez mais devido ao efeito estufa, em parte devido ao grande número de partículas de dióxido de carbono na atmosfera. Isso faz com que os raios do sol penetrem na Terra, mas não voltem a sair, o que acaba provocando um aumento das temperaturas.
Se compararmos com a media do século XX, a temperatura global aumentou quase 1 Celsius, mas o mais alarmante é que nos últimos cinco anos este aumento se deu de uma forma muito mais pronunciada. Esse é um exemplo muito claro dos efeitos negativos dos gases de efeito estufa.
O setor industrial é o que gera maior poluição, com 35% das emissões. Segue-se o setor agrícola e florestal, que representa 20 %. 18% tem a ver com o uso do aquecimento e da eletricidade nos edifícios, enquanto 16% é atribuído aos transportes e apenas 3% é o lixo que geramos.
"Se você olhar para esses dados de ano para ano, a temperatura pode subir um pouco, descer um pouco, pode descer um pouco, mas o problema é que a tendência é inexoravelmente de aumento de temperatura", disse Carlos del Castillo, chefe do Laboratório de Ecologia da NASA.
- O futuro das inundações
A análise também prevê que, até à década de 2050, o número de dias de inundações nas marés altas aumentará drasticamente na maioria das nações insulares do Pacífico. Em Tuvalu, por exemplo, áreas que atualmente experimentam menos de cinco dias de inundações por ano podem enfrentar até 25 dias por ano até meados do século. Em Kiribati, a média pode aumentar de cinco a 65 dias de inundação por ano.
"Estou vivendo a realidade das alterações climáticas", comentou Grace Malie, uma jovem líder de Tuvalu e participante da Iniciativa das Nações em Ascensão, um programa apoiado pela ONU que busca preservar a soberania e os direitos das populações afetadas pelas alterações climáticas. "Todo mundo em Tuvalu mora perto da costa, Então todos são gravemente afetados por isso", explicou Malie.
As inundações nessas ilhas não ocorrem apenas devido à subida do mar durante tempestades ou marés excecionalmente altas, conhecidas como "marés-rei", mas também devido à intrusão de água salgada em aquíferos subterrâneos, empurrando o lençol freático para a superfície. "Em alguns pontos da ilha, podemos ver como a água do mar borbulha do subsolo e causa grandes inundações", relatou a ativista.
- Um panorama desigual no planeta
A elevação do nível do mar não é uniforme em todo o mundo. Fatores locais, como a topografia da costa e a distribuição da água derretida glacial nos oceanos, influenciam a magnitude do aumento em cada região. No entanto, Ben Hamlington, pesquisador da NASA e líder da equipa de alteração no nível do mar, observou que no Pacífico, os números são surpreendentemente consistentes.
O impacto dos 15 centímetros de aumento variará de país para país. Algumas nações podem enfrentar inundações frequentes em seus aeroportos, enquanto outras podem ver seus bairros inundados por quase metade do ano. A combinação de dados de satélite e medições no solo seria fundamental para obter projeções mais precisas, mas "há uma falta real de dados no solo nesses países", lamentou Hamlington.
Grace Malie concluiu com um apelo à ação global: "o futuro dos jovens de Tuvalu já está em perigo. A mudança climática é mais do que uma crise ambiental, é sobre justiça, sobrevivência para nações como Tuvalu e responsabilidade global."
Fontes
editar- ((es)) Antoni Belchi. El Pacífico, la parte del mundo que enfrenta un “imparable” aumento del nivel del mar — Voz de América, 5 de outubro de 2024
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