Agência Brasil

7 de julho de 2008

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Apesar dos esforços do governo brasileiro para convencer a comunidade internacional do contrário, os biocombustíveis continuam na lista dos vilões da alta nos preços mundiais de alimentos. Indagados pelos jornalistas ao final do primeiro dia da reunião do G8, tanto o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, quanto o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, atribuíram parte da culpa pela inflação alimentar aos combustíveis

“Diversos fatores afetaram os preços, mas não há dúvida de que os biocombustíveis estão entre eles”, disse Zoellick, que fez questão, no entanto, de diferenciar os combustíveis produzidos com cana-de-açúcar, como o etanol brasileiro, dos que são feitos com cereais e vegetais. O ex-secretário de comércio dos Estados Unidos lembrou que cerca de três quartos do crescimento da produção de milho nos últimos três anos foi para a produção de etanol nos Estados Unidos.

Documento divulgado pelo Banco Mundial na semana passada para embasar os debates da cúpula do G8 – grupo dos sete países mais industrializados do mundo, mais a Rússia – já mencionava o uso do óleo de cereais e vegetais para a produção de combustíveis como uma das causas da disparada de preços. Segundo dados do Banco Mundial, os preços dos grãos mais que dobraram desde 2006. Apenas neste ano, a alta acumulada é de 60%.

O estudo diz que, nos últimos três anos, cinco milhões de hectares de terras aráveis que poderiam ter sido usados para plantação de trigo foram destinadas à produção de colza e girassol para biocombustíveis – de acordo com o Banco Mundial, isso ocorreu nos principais países produtores de trigo, incluindo Canadá, membros da União Européia e Rússia.

O documento reconhece, no entanto, que a produção brasileira do etanol à base de cana não levou a altas substanciais” no preço do açúcar. O Banco Mundial também compara o custo das diferentes produções. Enquanto o etanol da cana-de-açúcar custava US$ 0,90 o galão em 2007, contra um custo de US$ 1,70 por galão do etanol de milho produzido pelos Estados Unidos e US$ 4 por galão do biodiesel produzido pelos americanos e europeus.

Zoellick sugeriu a revisão dos programas americanos e europeus de subsídios à produção de biocombustíveis e a redução das tarifas impostas a esse tipo de produto.

Ban Ki-Moon concordou com os argumentos de Zoellick, mas ponderou que não há dados sobre o exato impacto dos biocombustíveis na crise mundial de alimentos. “Acredito que são necessários mais estudos e mais pesquisa sobre os biocombustíveis de segunda geração”, disse o representante da ONU, lembrando que o governo brasileiro promoverá conferência internacional sobre o tema em novembro.

Uma das missões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Hokkaido será, justamente, tentar isentar de culpa a produção de biocombustíveis. A exemplo do que fez na semana passada durante a Cúpula do Mercosul, na Argentina, Lula deve jogar a culpa na especulação financeira e cobrar dos países do G8 que parem de comprar safras ainda nem plantadas nos chamados mercados futuros.

Fontes