Brasil • 6 de outubro de 2005

Bacia do Rio São Francisco.
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O bispo de Barra (Bahia), Dom Luís Flávio Cappio, está há 11 dias em greve de fome, em protesto contra o projeto do Governo de Transposição do Rio São Francisco.

O bispo disse que irá continuar sem comer, a consumir apenas água, até que o Governo reveja a decisão de levar adiante o Projeto. Numa carta que Dom Luíz endereçou ao Governo, ele disse que permanecerá "em greve de fome, até a morte, caso não haja uma reversão da decisão do Projeto".

O bispo afirma que "a greve de fome só será suspensa mediante documento assinado pelo Exmo. Sr. Presidente da República, revogando e arquivando o Projeto de Transposição".

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta para o bispo semana passada, explicando que o Governo já está a trabalhar na questão e tentando convencer o bispo a terminar o seu protesto.

Após ler a carta, Dom Luiz escreveu à mão uma resposta a Lula dizendo que vai continuar em jejum enquanto não receber um documento com a assinatura do Presidente que revoga e arquiva o actual projeto de transposição do rio.

Nesta quinta-feira (6), o Ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner viajou para falar pessoalmente com o bispo Dom Luiz Flávio Cappio. Acompanhou o ministro, Dom Lorenzo Baldisseri, representante do Vaticano no Brasil.

O Projeto de Transposição do Rio São Francisco

O Rio São Francisco é um dos rios mais populares e importantes do Brasil.

O Projeto de Transposição consiste basicamente em desviar uma parte do fluxo do Rio São Francisco (1% do volume total, segundo o Governo) para alimentar outros rios e reservatórios de água da Região do Nordeste do Brasil, que sofrem com o clima semi-árido.

Muitos rios no Nordeste têm vida temporária, e com a água extra do São Francisco poderiam se tornar perenes. De acordo com o Governo, milhões de nordestinos que vivem com suas famílias na parte mais seca do Nordeste serão beneficiados com o projeto.

A polêmica em relação ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco decorre da sua complexidade. Uma das questões é se há água suficiente para ser desviada. Em segundo lugar, é necessário saber se é possível bombear a água do São Francisco através de canais abertos e fazê-la chegar até os locais escolhidos.

Segundo João Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), um relatório elaborado pela Gerência da Divisão de Planejamento da Geração Elétrica, da Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba) mostra que pode haver uma significativa diminuição no fornecimento de energia elétrica nas Regiões Norte e Nordeste, com a transposição.

O documento diz que a retirada e o bombeamento da água do São Francisco necessários para vencer um desnível de 160m e poder abastecer os rios a serem perenizados provocará uma redução na geração de energia nas usinas da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

Além disso, há de se levar em conta o alto índice de evaporação da região, o que torna mais complicada a possibilidade de se criar cursos perenes de água correndo a céu aberto.

Pedro Brito, Coordenador-Geral do Projeto São Francisco e chefe do gabinete do Ministro da Integração Nacional, alega que o projeto causará perda insignificante na geração de energia elétrica. Ele também diz que uma subsidiária da própria Chesf será a responsável pela operação do Projeto São Francisco.

O Ministério da Integração Nacional garante que a quantidade de água que será retirada do rio é pequena, e que não há risco de o Rio São Francisco acabar.

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