Luanda, Angola • 11 de julho de 2021

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Agência VOA

A capital angolana tem sido palco de um elevado número de mortes por doenças diversas. Entre as mais apontadas causas de morte está a malária em primeiro lugar, seguida da anemia aguda e doenças diarreicas. As unidades sanitárias de cuidados primários estão sem capacidade de resposta face da demanda de pacientes.

"Falta tudo", diz o político do Bloco Democrático, Américo Vaz, que realizou uma visita de constatação em algumas unidades sanitárias de Luanda.

"O sistema nacional de saúde está falido, não há sequer condições de assistência aos pacientes", disse Américo Vaz para quem as dificuldades começam logo pela base: "não existem meios para se fazer diagnóstico aos pacientes. Os laboratórios não funcionam nem no Capalanga, nem no cajueiro, nem no hospital da Samba".

A falta de oxigénio e de balões de sangue são problemas transversais que pintam negativamente o quadro sanitário do país quando estudos recentes divulgados apontam baixos custos para se travar as mortes por anemia aguda.

"Nós hoje não conseguimos compreender como é que se morre de anemia aguda em Angola, quando para tratar são necessários apenas 3 dólares americanos. Não conseguimos compreender como é que hoje em Angola morrem cerca de dois milhões e setecentos e quarenta crianças.

O maior problema da saúde em Angola nos últimos tempos chama-se "infodemia", ou seja, o excesso de informações não credíveis difundidas sobretudo nas redes sociais com propósitos inconfessos, diz Clarry Ndongala, médico e Coordenador do projeto "Educação para Saúde" para quem esta situação alimenta a "comunicação de risco".

O especialista afirma que alguns dos problemas enfrentados pelo sector são resultantes da inoperância de outras instituições-chave para melhoria do sistema de saúde pública.

"O sector da saúde nos termos de referência e das suas atribuições apresenta maturidade suficiente para fornecer indicadores que nos fazem afirmar que existe um desempenho e engajamento técnico-profissional para uma assistência médica qualificada, mas que está infelizmente condicionada a outros determinantes de competência de outros sectores", frisou.

Angola registou, entre janeiro e maio de 2021 3.799.458 (Três milhões setecentos e noventa e nove mil e quatrocentos e cinquenta e oito) casos de malária.

Os casos reportados este ano, com uma taxa de letalidade de 0,1%, significam mais 322.717 casos e menos 102 óbitos relativamente aos primeiros cinco meses de 2020, segundo informações prestadas pela Ministra da Saúde Sílvia Lutucuta.

"As províncias de Luanda, Lunda Norte, Malanje, Uíge, Bié, Benguela, Huambo e Huíla são as províncias mais afetadas pela malária o que provoca um aumento da pressão assistencial nas unidades sanitárias, mais visível no atendimento pediátrico", afirmou a ministra.

Além da malária, a dengue, que ocorre em muitos casos associada ao catolotolo, à leptospirose e à Covid-19 são outras doenças de grande preocupação para o Governo liderado por João Lourenço.

De janeiro à maio de 2021 foram notificados 249 casos de dengue, sem óbitos, sendo a província mais atingida o Namibe, e 533 casos de catolotolo.

Sobre as mortes causadas por malária e anemia aguda, o Coordenador do Projeto "Educação para Saúde" chama atenção para as fontes dos dados divulgados pela imprensa. "Seria muito bom se fossem os gestores das instituições de saúde a prestar as informações", avançou o médico que solicita um maior envolvimento da sociedade e de outras instituições no combate contra as doenças como a malária.

O médico rejeita a ideia segundo a qual o Ministério da Saúde fracassou no combate contra malária, a maior causa de morte em Angola. "As ações foram bem traçadas e até ao momento estão a ser implementadas na medida dos possíveis e aqui sublinho o que disse anteriormente - os outros sectores implicados onde estão?"

"Como médico, não aceito assumir uma posição de fracasso no combate contra malária. Os indicadores de assistência médica qualificada não se resumem apenas no número de mortes ocorridas por malária, é importante olhar para o total de casos diagnosticados quer nas unidades sanitárias de atenção primária, secundária e terciária. As mortes por malária vão acontecer se os mosquitos continuarem soltos por aí e se a sociedade não incentivar as medidas de prevenção", afirma o médico que entende que "o fracasso está no sector que deixou água paradas nas ruas, criou charcos e lagoas, acumulou lixo favorecendo a proliferação dos mosquitos".

Sistema de cuidados de saúde deve ser redesenhado

As comunidades devem ser envolvidas nas ações de promoção da saúde, de modo a evitar a prevalência de mortes por doenças preveníveis e mortes prematuras.

Clarry Ndongala defende assim aposta nas políticas de educação para saúde e apela ao "financiamento e à fiscalização dos projetos que beneficiam a saúde das famílias, a saúde ambiental e das comunidades".

Nesta perspectiva, diz o especialista em medicina "vamos atuar na saúde preventiva e não na doença". Outro desafio, acrescenta Coordenador do Projeto Educação para Saúde consiste na "produção de decretos de cooperação com distintos sectores e a responsabilização dos fomentadores da comunicação de risco".

Para o melhoramento do quadro sanitário do país, o político Américo Vaz apela à aposta séria no sector da educação para formação de quadros com capacidade técnica e profissional para dar resposta à demanda.

"O processo deve ser combinado com o problema da educação. Precisamos treinar profissionais para darem resposta a esta demanda, porque hoje a medicina está em constante mutação e devemos ter profissionais adequados e disponíveis para atender este sistema nacional de saúde", afirma o político cuja sugestão para o Executivo é tridimensional enquadrando-se no espírito das autarquias.

Fonte

Mortes por malária: médico angolano rejeita ideia de que Ministério da Saúde fracassou no combate à doença — Voz da América, 11 de julho de 2021