Agência VOA

Cabo Verde.

Poeta cabo-verdiano, diplomata e empresário, Corsino Fortes faleceu quatro dias depois do lançamento do seu último livro "Sinos de Silêncio: Canções e Haicais" e foi ator do livro Pão & Fonema. Mudou a temática da literatura das ilhas quando em 1974 lançou Pão & Fonema, cuja trilogia completou com Árvore & Tambor, em 1986 e Pedras de Sol & Substância, 2001.

24 de julho de 2015

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Morreu hoje, na sexta-feira (24/7) o poeta Corsino Fortes, um dos mais consagrados escritores cabo-verdianos. O homem que mudou a temática da literatura das ilhas nas vésperas da Independência do país há 40 anos escolheu a sua terra natal, São Vicente.

Fortes faleceu depois de longos anos de luta contra cancro e de ter lançado novo livro menos de uma semana. No país, era conhecido por muitos críticos literários como o "príncipe do poeta" e "poeta maior de Cabo Verde".

Corsino António Fortes nasceu a 14 de Fevereiro de 1933 em São Vicente e cedo descobriu a poesia como forma de liberdade e de afirmação identitária.

Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa em 1966 e integrou a luta pela independência de Cabo Verde, na clandestinidade enquanto era juiz de direito em Benguela, Angola.

Em 1975 foi nomeado o primeiro embaixador de Cabo Verde em Portugal, de onde, anos depois, regressou a Cabo Verde para integrar o Governo como secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro Pedro Pires.

Mais tarde deixou a sua marca na comunicação social ao criar, em 1984, enquanto secretário de Estado.

Embaixador em Angola, Fortes regressou a Cabo Verde para integrar, como ministro da Justiça, o último Governo do PAICV na chamada I República, que terminou em 1991.

Corsino Fortes, foi presidente da Associação dos Escritores Cabo-verdianos e presidente da Academia Cabo-verdiana de Letras, desde a sua fundação em 2013. Também presidiu a Assembleia Geral da Fundação Amílcar Cabral e liderou a primeira empresa de seguros privada Ímpar.

Fortes publicou os primeiros poemas no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes, no Boletim de Cabo Verde e na revista Claridade.

Mas é em 1974, com a publicação de Pão & Fonema, que, segundo disse à VOA o antropólogo e escritor Manuel Brito-Semedo, Fortes assume-me como um inovador e muda a temática da poesia cabo-verdiana.

Árvore & Tambor (1986) e Pedras de Sol & Substância (2001) completam a trilogia “corsiniana”, com uma originalidade formal e artística que marcou a sua carreira. Foi então que, numa só obra, dá à estampa as criações anteriores em A Cabeça Calva de Deus.

Corsino Fortes foi em diversas ocasiões distinguido pela sua actividade político-diplomática, e recentemente recebeu uma distinção maior pela sua longa carreira longa carreira poética: o prémio literário 40º Aniversário de Independência de Cabo Verde.

A última obra daquele que muitos chamam “o príncipe da literatura” ou “o poeta maior” deu à estampa na passada terça-feira, 21, a sua última obra: “Sinos de silêncio: Canções e Haicais”.

Corsino Fortes não esteve presente na apresentação da obra na sua terra natal, São Vicente, por encontrar-se muito doente, embora estivesse na ilha.

Reações

Esta sexta-feira, 24, partiu, e as reacções não se fizeram esperar.

Num comunicado, a Academia Cabo-verdiana de Letras disse que “se a poesia é 'a guarda pretoriana dos sonhos', Corsino Fortes é, sem dúvida, um dos seus mais destacados servidores. Como sempre dizia, a cultura é como uma corrida de estafetas. Cada um vai passando o facho a quem vem a seguir. Corsino Fortes passa o facho a uma geração inteira!”.

Para o Presidente da República, Fortes era “um homem bom, poeta singular com lugar de destaque na literatura cabo-verdiana, poeta de pão e de fonema, foi meu professor de português no primeiro ano dos liceus, na Praia, ímpar, um amigo em todas as circunstâncias”.

Corsino Tolentino, diplomata, político e investigador, afirmou que Fortes era o seu poeta. "Corsino Fortes foi um patriota muito comprometido com o destino de Cabo Verde: deixa uma lacuna grande na sociedade cabo-verdiana, vamos divulgar a obra e o exemplo"

O encenador e actor João Branco, director do Centro Cultural Português de Mindelo considera que hoje é “um dia muito triste para Cabo Verde, para a sua cultura, para a sua literatura, é uma perda irreparável”.

"Os grandes poetas fazem uma obra redonda, completa, e Corsino Fortes terminou a dele a quatro dias da sua morte com Sinos de silêncio: canções e haicais", sintetizou o antropólogo cabo-verdiano Manuel Brito-Semedo sobre "o maior poeta épico das ilhas", nas palavras da escritora e vice-presidente da Academia Cabo-verdiana de Letras, Vera Duarte.

A influência de Corsino Fortes, no entanto, não se esgota na sua obra. A jornalista e poetisa Margarida Fontes, cujo primeiro livro de poemas De Lírios lançado no ano passado foi apresentado por Corsino Fortes, lembra o incentivo que o poeta sempre transmitiu às novas gerações e o seu legado.

Vera Duarte, Manuel Brito-Semedo e Margarida Fontes falaram do homem e poeta nesta edição especial de Artes & Entretenimento da VOA.

Fontes