Deputado que mandou a opinião pública “se lixar” ataca a imprensa no Plenário da Câmara e provoca mais indignação no Brasil

9 de maio de 2009

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O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) foi ao plenário da Câmara anteontem para fazer novos ataques à imprensa. No discurso feito no plenário, Moraes acusou a imprensa querer manchar a imagem do Congresso. Ele relata o caso do deputado Edmar Moreira (Sem partido-MG) no Conselho de Ética, reafirmou o que disse a jornalistas anteontem (6), ao provocar polêmica ao dizer que a imprensa “bate”, mas ele “sempre se reelege” e mandar “se lixar” a opinião pública, o pedido de absolvição ao Moreira. Novamente se referindo à discussão do dia anterior, Moraes criticou o trabalho da jornalista.

Moraes afirmou que não irá se pautar pela imprensa para fazer o relatório sobre Moreira, acusado de ter usado irregularmente verba indenizatória ao apresentar notas de empresa da propriedade da área de segurança e não comprovar a efetiva prestação do serviço. Moreira ganhou notoriedade, depois que o Jornal da Band, da Rede Bandeirantes, revelou no início de fevereiro, que ele ter um castelo de R$ 25 milhões em Minas Gerais, registrado em nome do filho, mas isso não entrou na investigação contra ele.

A imprensa nacional, que na sua grande maioria é mentirosa, tenta fazer valer a sua opinião, quando a sua opinião, todos sabemos, é induzida. Ela usa o seu espaço de forma tendenciosa para manchar a imagem deste Congresso.
(...)
Ontem, uma repórter do jornal 'O Globo' me ameaçou ao perguntar se eu não temia a opinião pública. Respondi a ela que estava me lixando para aquilo que ela escreve no jornal 'O Globo', como estou me lixando para o que escrevam em outros jornais do País.
(...)
Ontem [anteontem], a repórter do Globo disse que era uma vergonha nós estarmos eleitos. Vergonha é ela trabalhar com quem não gosta. Mas ela é induzida. Que triste emprego! Tem que trabalhar com mesquinhez, distorcer, conduzir de forma mesquinha o processo neste parlamento. Eu não aceitaria, porque minha honra e minha personalidade não permitem mentiras. A minha conduta é reta, e não vou curvar-me. Eu sempre digo: em nome de meus filhos, prefiro apanhar de pé a ser acariciado ajoelhado.

Sérgio Moraes

Apesar das evidências, adiantou a opinião e primeiro voto a favor da absolvição do deputado Edmar Moreira, o dono do castelo, que não aparece entre os bens declarados à Justiça Eleitoral. “Edmar foi injustiçado. Isso, eu não tenho dúvida”.

Justificativa

A justificativa de Moraes seria quando na noite do dia 27 de abril, o deputado Edmar Moreira apresentou a defesa ao Conselho de Ética é que não havia impedimento para que o parlamentar gastasse os R$ 15 mil mensais da verba indenizatória em sua própria empresa. Ele utilizou notas de empresas suas de segurança para obter ressarcimento de gastos.

A defesa de Moreira utiliza por duas vezes uma declaração do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), relativa ao caso das passagens aéreas em que o peemedebista enfatiza que não há irregularidade sobre o uso desta cota no passado. Para Moreira, o argumento deveria ser extensivo ao seu caso.

De modo que, tal como fizemos no caso da verba indenizatória, em que havia um sistema normativo anterior revogado por um sistema normativo novo, é claro que não se pode questionar o que ocorreu no passado. (...) O que quero deixar claríssimo aos senhores parlamentares é que não houve prática ilícita no passado.

Trecho da defesa do deputado do castelo.

Moreira questiona o trabalho da comissão de sindicância montada pela corregedoria para investigá-lo preliminarmente. O deputado reclama que a comissão não se ateve ao pedido do PSOL para que fosse investigado apenas se as empresas de segurança eram de sua propriedade. Ele diz ter sido perseguido e afirma ser usado como “boi de piranha”.

O deputado admite ter sacado em espécie recursos da verba indenizatória, mas enfatiza ter obtido autorização da Casa para fazer isso. Ele contesta também a afirmação da comissão de sindicância de que não conseguiu mostrar que os serviços de segurança foram prestados. Para Moreira, um contrato, sem registro em cartório, mostra a realização do serviço.

Ora, a minha conclusão não pode ser outra senão a que venho bradando desde o início dessa minha defesa: a urgência em me condenar para satisfazer patrocinadores do espetáculo do ‘deputado do Castelo’ era tamanha que não bastasse a desconsideração de todas as minhas argumentações, os próprios compromissos assumidos pela comissão foram convenientemente esquecidos.

Reclama Moreira
Reações

As declarações do deputado repercutiram. “Todos nós estamos preocupados com a opinião pública. O Congresso inteiro está preocupado com a opinião pública. Lógico, é a opinião pública que depois traz o voto”, afirmou o deputado José Carlos Araújo (PR-BA), presidente do Conselho de Ética, na coletiva de imprensa.

O partido Democratas (DEM), informou que vai pedir ao Conselho de Ética que o deputado Sergio Moraes seja substituído na relatoria do processo contra Edmar Moreira.

Fontes