Covid-19: Ludhmila Hajjar, médica cotada para assumir Saúde, diz que recebeu ameaças e que recusou convite de Bolsonaro

15 de março de 2021

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Ludhmila Hajjar, médica cardiologista e intensivista, falou com a CNN Brasil e a Globo News no início desta tarde sobre sua reunião com o presidente Jair Bolsonaro para tratar da possibilidade dela assumir a chefia do Ministério da Saúde. Ela disse que recusou o convite principalmente por questões técnicas. "Sou uma médica, uma cientista. Tenho minhas expectativas em relação à pandemia e o que vi, escrevi e aprendi está acima de qualquer ideologia que não seja pautada pela ciência".

Durante a entrevista na CNN, a apresentadora perguntou se a postura de Bolsonaro, que é contra as medidas restritivas e a favor do tratamento precoce, havia sido um ponto de divergência. "É um ponto sim e eu deixei explícito desde o início (...) que a ciência já demonstrou que o paciente tem que ser atendido precocemente, mas que algumas medicações empregadas como cloroquina, ivermectina, azitromicina, zinco e a vitamina D já demonstraram não ser eficazes no tratamento da doença". À Globo, a médica disse que o presidente precisa de alguém alinhado com suas ideias. "Certamente não sou esta pessoa", declarou.

"Assuntos como cloroquina e lockdown nem deveriam estar sendo discutidos. O lockdown, já está demonstrado cientificamente, salva vidas", disse à CNN. Ela também falou que a medida deve ser decretada conforme a situação de cada estado e não a nivel nacional. "Às vezes é necessário, sim, o lockdown. Tem dias em que o município não vai ter leitos de UTI e com as pessoas morrendo à porta dos hospitais, não há outro jeito que não fechar para conter a transmissão".

A médica também abordou a questão econômica, dizendo que medidas como a ativação de novos leitos e contratação de mais profissionais ajudam a diminuir o tempo de lockdown e o impacto econômico da pandemia. "Isto é ciência e não uma posição pessoal. Não tem como ir contra", falou para a CNN.

Questionada na CNN sobre o que faria se fosse ministra, a médica respondeu: "primeiro eu acabaria com o discurso do tratamento precoce. Isto já é passado", disse. Ela também falou que trabalharia em três frentes: 1) ativação emergencial de leitos, com um protocolo nacional de tratamento dos pacientes internados; 2) priorização e intensificação da vacinação em massa; 3) introdução de novos tratamentos da covid-19; 4) união de todos os governos, federal, estaduais e municipais, para combater a pandemia com base em dados científicos.

"É a ciência que vai tirar o povo desta pandemia e que vai fazer as pessoas voltarem a ter pão e café em casa", enfatizou.

O atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, também participou da reunião.

Cenário difícil

Sobre o cenário da pandemia de covid-19 no Brasil nas próximas semanas, Ludhmila disse para a CNN que "infelizmente, tenho a previsão que os próximos dias serão difíceis, com muitas mortes".

"Até que as vacinas cheguem (...) leva em tempo, então em menos de 2 ou 3 meses não se enxerga que vacina esteja disponível para a população. (...) Então, não podemos deixar de atuar com outras ações emergenciais", explicou.

Ameaças de morte

Ludhmila falou às emissoras que sofreu ameaças de morte. "Recebi ataques, ameaças de morte que duraram a noite, tentativas de invasão em hotel que eu estava, fui agredida, [enviaram] áudio e vídeo falsos com perfis, mas estou firme aqui e vou voltar para São Paulo para continuar minha missão, que é ser médica", disse à CNN.

Ela também enfatizou que não tem ligação alguma com qualquer partido político. "Meu partido é o Brasil", declarou.

"Esta maldade usada nas redes sociais, isto hoje é um atraso no Brasil e vidas estão indo embora por causa disto", explicou, dizendo também que havia ficado muito assustada. "Tenho muita coragem e pelo Brasil eu estava disposta a passar por tudo isto", disse à Globo News.

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