13 de março de 2025

Donald Trump
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O presidente norte-americano Donald Trump anunciou a interrupção do envio de apoio financeiro para programas de saúde voltados à prevenção e combate ao vírus HIV e à aids, entre eles o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da Aids (Pepfar, na sigla em inglês), com grande impacto na África Subsaariana, por exemplo. A decisão foi vista com maus olhos pela OMS, a Organização Mundial de Saúde, que considerou a ação uma regressão a 1980, quando a epidemia de aids fazia milhões de vítimas.

Segundo a Unaids, a agência das Nações Unidas dedicada à luta contra a doença, mais de seis milhões de mortes podem resultar dos cortes de financiamentos, que ocasionarão a interrupção de tratamentos e distribuição de diversos medicamentos. A decisão representa mais uma das drásticas mudanças que Donald Trump tem empregado desde sua eleição à presidência e, segundo Daniel Afonso, pesquisador no Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da USP, o corte é uma reformulação de gastos públicos, que têm sido firmemente movimentada por Trump como promessa de eleição. “Esse esforço da presidência Trump é uma maneira de promover uma espécie de otimização da eficiência do gasto público nos Estados Unidos, uma otimização que foi amplamente delegada ao conselheiro especial da presidência da República, que é o Elon Musk.”

Os Estados Unidos são um dos maiores doadores de fundos para o combate à aids, principalmente através do programa Pepfar e, com o corte, centenas de milhões de dólares direcionados para esses programas de apoio estrangeiros foram congelados por 90 dias. Washington é considerado o maior doador da OMS, financiando 75% do programa da organização voltado para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Segundo Afonso, a situação sensibiliza aspectos diplomáticos para os países que dependem dessa ajuda, que deverão procurar meios de perpassar a decisão. “Economicamente, os países vão ter que, de certa maneira, ou ignorar a decisão norte-americana ou se organizar para aumentar o seu percentual do PIB investido, sobretudo em pesquisas na área de saúde”, explica o pesquisador.

Atualidade

Em 2023, 39,9 milhões de pessoas no mundo estavam vivendo com HIV, enquanto isso, 1,3 milhão de pessoas apresentavam novas infecções por HIV e 630 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à aids. Os dados revelam que, apesar de não tão discutidas, as infecções por HIV ainda são ativamente contraídas e, segundo Rico Vasconcelos, médico infectologista, pesquisador e coordenador médico do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, regiões mais vulneráveis são pontos centrais de incidência da doença.

África Subsaariana, Ásia e algumas regiões da América Latina representam pontos de alta infecção por HIV e serão as mais afetadas pelo corte, principalmente a África Subsaariana. “Tem muitos países na África Subsaariana, ali na Ásia também, e mesmo na América Latina que dependem totalmente ou parcialmente de recursos dos Estados Unidos, principalmente do Pepfar e do CDC, o Centro de Controle de Doenças, para fazerem seus programas de prevenção e tratamento de HIV”, informa Vasconcelos.

No Brasil, o tratamento para pessoas diagnosticadas com HIV é fornecido pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. Entretanto, algumas consequências do corte já podem ser vistas em alguns programas de saúde, como o A Hora é Agora, por exemplo. Os atendimentos aos pacientes com HIV em Porto Alegre foram suspensos e a Secretaria Municipal de Saúde informou que a interrupção foi ocasionada pelo corte de financiamento norte-americano através do Pepfar, uma parceria entre a Fiocruz e o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA.

Reações

Em reação aos cortes, a OMS declarou que a decisão é uma “ameaça global” e que coloca em risco o atendimento de milhões de pessoas afetadas pela doença. A revolta surge em meio a um período tenso entre os Estados Unidos e a OMS, principalmente após Trump anunciar a retirada do país da organização, ação que pode vir a prejudicar tratamentos e descobertas de diversas outras doenças, além de representar um grande retrocesso social.

Para Vasconcelos, ONGs e governos estrangeiros pouco podem fazer em relação à decisão, além de procurarem a independência dos recursos, devido à baixa influência na política interna norte-americana. Entretanto, para ele, a ONU pode ter algum impacto frente ao problema. “A ONU talvez tenha como argumentar que qualquer epidemia deve ser enfrentada globalmente por causa do não cumprimento de restrições geográficas por essas infecções (…) ela pode reiterar para os Estados Unidos, explicando que o descontrole da epidemia de HIV em outras regiões vai também impactar negativamente a saúde pública norte-americana.”

Entretanto, apesar da gravidade da situação, Afonso alerta para a possibilidade de esquecimento das consequências dos cortes na saúde em meio à pressão dos diversos conflitos diplomáticos nos quais os Estados Unidos estão inseridos. “As grandes questões geopolíticas atuais dizem respeito essencialmente à sorte da Ucrânia e ao destino do Oriente Médio e é sobre essencialmente esse plano geopolítico que os norte-americanos e também os europeus estão debruçados nesse momento, malgrado a questão de saúde seja muito relevante, malgrado a questão relacionada à aids também seja muito preocupante.”

Fontes

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