13 de julho de 2022

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Agência VOA

Duas pessoas ficaram gravemente feridas e dezenas de palhotas foram incendiadas na noite de terça-feira (12), numa aldeia de maioria cristã, em Nkoe, distrito de Macomia, forçando uma fuga da população e agravando a crise humanitária em Cabo Delgado, disseram à VOA nesta quarta-feira (13), várias fontes locais.

Outras três pessoas morreram decapitadas numa sequência de ataques de grupos armados, ligado ao Estado Islâmico, a aldeias do interior do distrito de Meluco, onde foram também queimadas dezenas de habitações, contaram as fontes da VOA.

Depois de ter atacado as aldeias Mitepo e Mussemuco no fim de semana, o grupo armado voltou a escalar Mitepo na terça-feira, supostamente para uma ofensiva contra a força que se tinha deslocado para o local, tendo decapitado três camponeses que tinham regressado após o ataque anterior.

“Essas pessoas já não tinham para onde ir, e muitos desses que ficam nessas aldeias não tem familiar e não podem buscar abrigo noutras zonas”, disse à VOA Abudo Ismael, um morador de Meluco, descrevendo uma nova movimentação da população na sede distrital.

“Muita gente chegou à sede de Meluco desde fim de semana. Algumas pessoas vivem debaixo de árvores e sem alimentação”, destacou, insistindo que entre os deslocados, numerosas crianças acompanham os pais.

Outra fonte local relatou que o grupo terrorista, localmente conhecido por al-shaabab tinha atacado e incendiado a aldeia Mitepo no sábado (9), matando “um homem cristão” e forçando a fuga de outras centenas de famílias, a maioria já deslocadas de outros pontos.

Já no domingo (10), o grupo invadiu a aldeia de Mussemuco, queimando palhotas e destruindo outros bens, matando igualmente uma outra pessoa.

A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Pemba não respondeu o pedido de comentário enviado pela VOA.

Entretanto, o Estado Islâmico revindicou a 9 de junho, um ataque a uma aldeia de maioria cristã no distrito de Ancuabe, decapitando dois cristãos, incendiando uma igreja e dezenas de casas.

Em junho pelo menos 32 mil pessoas foram forçadas a se deslocar no distrito de Ancuabe, onde mais de 1500 casas foram incendiadas durante ataques insurgentes, segundo várias fontes locais.

Mais um quartel atacado

Ainda no sábado, no extremo mais a este de Palma, em Pundanhar, um grupo armado atacou um posto avançado das Forças de Defesa e Segurança (FDS), forçando os soldados a recuar, após um forte confronto.

O “intenso confronto”, que se acredita terá resultado na morte de muitos insurgentes e também de alguns militares e elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), é o segundo que se regista em menos de duas semanas, após o assalto a um quartel em Mandimba (Nangade), a 29 de junho.

Jasmine Opperman, especialista em análise de dados de conflitos armados, escreve na sua página no Twitter que é muito provável que as armas capturadas pelos insurgentes em Mandima (Nangade) tenham sido usadas no ataque a posição militar em Pundanhar.

“O fluxo de fornecimento de armas dos insurgentes permanece localizado”, escreve Jasmine Opperman, que segue o conflito em Cabo Delgado, considerando por isso “um passo para atrás” no aperto do fornecimento de armas, por o grupo ter conseguido capturar o arsenal das Forças de Defesa e Segurança.

A insurgência espalhando-se para o sul de Cabo Delgado traz riscos para cerca de 61 projetos no sector de mineração, refere numa outra publicação a especialista.

A insurreição, com inspiração radical islâmica, irrompeu em 2017, deixando pelo menos 4.000 segundo a ACLED e cerca de 870.000 desalojados. As táticas brutais dos insurgentes — incluindo decapitações, raptos em massa, e o incêndio de aldeias inteiras – continuam a abalar a região.

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