Após reunião com o governo, hoteleiros devem diminuir em 20% os preços das diárias de hospedagem para a Rio+20; autoridades internacionais confirmam presença no evento

Agência Brasil

Rio de Janeiro, RJ, Brasil • 11 de maio de 2012

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

Os preços das diárias de hotéis do Rio de Janeiro durante o período da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, vão cair em pelo menos 20%. A diminuição foi negociada entre o governo, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih) e a operadora de turismo contratada pelo Ministério das Relações Exteriores para intermediar os contratos com as delegações estrangeiras.

O presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Flávio Dino, disse que a negociação será fechada na segunda-feira (14) e que o governo espera chegar a uma redução maior. “Fizemos o apelo pela redução e a indústria hoteleira, junto com a empresa contratada pelo Itamaraty, fez uma proposta de diminuição superior a 20%. O percentual final vai ser definido na segunda-feira. Queremos a máxima redução possível. Temos uma expectativa de ultrapassar os 20%, chegar a uma queda de 30%”, avaliou.

O governo decidiu fazer um apelo à indústria hoteleira depois que o Parlamento Europeu anunciou na última quarta-feira (9) que havia desistido de enviar uma delegação de eurodeputados para a conferência por causa dos preços abusivos da hospedagem. No mesmo dia, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), também informou que a Casa não pagaria diárias para os deputados durante a conferência por causa dos preços altos.

“Não há, neste momento, um quadro de cancelamento generalizado por causa dos preços. Foram casos isolados. A ação do governo foi no tempo certo, exatamente para que não houvesse um efeito multiplicador, o que poderia comprometer o sucesso da conferência ou mesmo a imagem do Brasil”, disse Dino.

O governo reuniu, para a negociação com os hotéis, um pelotão de ministros: a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; das Relações Exteriores, Antonio Patriota; da Justiça, José Eduardo Cardozo; e o advogado-geral da União, ministro Luís Inácio Adams, em uma reunião de mais de três horas no Palácio do Planalto.

A redução de preços será retroativa, ou seja, valerá para delegações que já contrataram hospedagem para o período. O acordo também prevê o fim da exigência de hospedagem mínima de sete dias, que estava sendo feita pelo setor hoteleiro. “Externamos a posição de não haver pacote mínimo de sete dias e tanto a indústria hoteleira como a operadora concordaram em abrir mão desse pacote mínimo”, declarou o presidente da Embratur.

Segundo Dino, a interferência do governo na questão não tem caráter intervencionista nem quer impor um tabelamento de preços à rede hoteleira. “O governo não pretende revogar a lei da oferta e da procura, o que estamos é fazendo um apelo à indústria hoteleira, para que, mesmo diante do aquecimento da demanda, cobrem preços mais compatíveis com o mercado de eventos”.

Apesar do provável acordo, o governo não descarta outras medidas para coibir abusos nos preços. “Se depois da negociação houver uma nova denúncia de abuso, o governo vai agir, seja negociando, seja pelos instrumentos de controle de que dispõe, a partir da ação, por exemplo, do Ministério da Justiça”, ressaltou o presidente da Embratur.

Conferência

Os modelos de desenvolvimento aplicados no mundo inteiro perderam a capacidade de responder aos novos desafios e estão gerando crises que afetam os três pilares do desenvolvimento sustentável (ambiental, social e econômico). Sem uma alteração muito clara em padrões de produção e consumo, não se conseguirá a sustentabilidade. Essa é a avaliação e opinião é do secretário-executivo da Comissão Nacional para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Para ele, quem tem que liderar essas mudanças são os países ricos, que possuem padrões de produções e consumo insustentáveis.

Segundo Figueiredo, que participou hoje (11), no Rio de Janeiro, de debate com profissionais da mídia sobre a Rio+20, essas mudanças de padrões envolvem, pelo lado da produção, o uso mais racional e eficiente de recursos naturais e de energia, além do aprimoramento de processos produtivos e, pela área do consumo, maior educação e alterações culturais que levem as populações a “não testarem os limites do planeta”.

Para Figueiredo, a conferência, que terá início daqui a um mês, no Rio de Janeiro, é a oportunidade de os países lançarem um olhar para os próximos 20 anos e mudarem os modelos atuais.

Quando se fala em padrões de produção e consumo, quem tem que liderar [essa mudanças] são os países ricos, que têm claramente os padrões mais insustentáveis. Não é possível achar razoável exigir que a nova classe média da Índia ande de bicicleta para salvar o planeta, se a classe média nos países desenvolvidos tem dois carrões na garagem. (...) Há crise nos três pilares do desenvolvimento sustentável e não é à toa. Algo não está sendo feito de maneira correta. Se continuamos fazendo o tempo todo a mesma coisa, nada muda. Ou se perpetua ou se agrava a situação. A Rio+20 é fundamental para sabermos como fazer certo para responder a essas crises.

Luiz Alberto Figueiredo

Figueiredo ressaltou que essa mudança precisa envolver novos padrões de produção e consumo, capazes de integrar as dimensões social, ambiental e econômica: “Não há possibilidade de desenvolvimento sustentável com fome, com estagnação da economia ou destruição ambiental. As três áreas têm que estar juntas.”, disse.

O embaixador destacou que as decisões de implementar mudanças precisam envolver não apenas os governos presentes à conferência, mas a sociedade como um todo, incluindo as famílias e as empresas do setor privado que, segundo ele, têm papel fundamental nesse processo.

Ele lembrou que eventos como a Rio+20 ocorrem “na melhor das hipóteses” uma vez a cada dez anos e enfatizou a urgência das mudanças. “Não podemos deixar essa oportunidade passar. Esta é a hora de decidirmos realmente o futuro que queremos”, destacou.

O embaixador Figueiredo defende a busca por uma convergência entre os dois modelos extremos de consumo: “Temos que buscar uma contração dos que estão abusando e um aperfeiçoamento dos que não têm nada para que cheguemos a um padrão que o planeta aguente, que o planeta sustente”, acrescentou.

Chefes de Estados e Governos

Os presidentes Jacob Zuma (África do Sul) e Vladimir Putin (Rússia), além dos primeiros-ministros da Índia, Manmohan Singh, e da China, Wen Jiabao, confirmaram participação na Conferência Rio+20, de 20 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. Todos pertencem ao chamado BRICS.

No começo desta semana, o presidente eleito da França, François Hollande, que elogiou a política social do Brasil, também confirmou sua vinda ao país para o evento.

Por enquanto, 116 chefes de Estado e de Governo informaram que estarão presentes às discussões. Muitos governos enviarão ministros e assessores para o evento por dificuldades com a agenda política interna. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por exemplo, está em campanha pela reeleição.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o desafio da conferência é buscar o consenso, sem acentuar as diferenças.

“A proposta da Rio+20 é lançar um olhar crítico, com equilíbrio e [buscando resolver as] lacunas, mostrando as áreas que avançamos. Os países individualmente podem mostrar isso, mas existem outras áreas em que os avanços foram negligenciados”, disse o chanceler, definindo as dificuldades em alinhavar consensos.

Porém, segundo Patriota, os desafios não podem afetar a expectativa de que a Rio+20 consagrará um marco sobre preservação ambiental, desenvolvimento sustentável e economia verde, definindo um novo padrão para o setor. “A diplomacia consiste em conciliar multiplicidade de interesses. O interessante nesses objetivos é que se dirigem a todos os países da comunidade internacional.”

O porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes, acrescentou ainda que, como anfitrião do evento, o Brasil tem o papel de ser promotor da busca de consensos. “Como anfitriões, os brasileiros devem servir como uma espécie de ponte entre as polarizações existentes, buscando a consolidação de uma agenda positiva”, disse ele.

Nos debates que antecederam à conferência e durante a Rio+20, os brasileiros destacarão a necessidade de conciliar as questões relativas à preservação ambiental, ao desenvolvimento sustentável e à economia verde com inclusão social. As autoridades querem mostrar que os avanços registrados no país credenciam o Brasil para a proposta.

Nas discussões, os brasileiros também defenderão a participação de populações excluídas nos debates. Graças a isso, haverá um espaço exclusivo para esses grupos e para as organizações não governamentais no Aterro do Flamengo, no Rio, denominado Cúpula dos Povos.

Confirmações

O diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil no Rio de Janeiro (Unic Rio), Giancarlo Summa, informou hoje (11) que dos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), 183 já confirmaram presença na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

Summa, que participou nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, de um debate com profissionais da mídia sobre a Rio+20, acrescentou que 135 presidentes, vice-presidentes ou primeiros-ministros dessas nações se inscreveram para discursar durante a reunião.

Também presente ao debate, o secretário executivo da Comissão Nacional para a Rio+20, embaixador Luiz Alberto Figueiredo, classificou o número de participantes como “expressivo”, principalmente se comparado aos presentes à Rio 92, que foi pouco superior a 100.

“Há um grande interesse internacional, o tema de fato é fundamental. Países com saldo devedor talvez não venham, mas os que estão crescendo, se desenvolvendo bastante virão”, disse.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, enfatizou durante o debate, que mesmo os países que não participarem da Conferência das Nações Unidas terão que discutir os assuntos tratados no evento, e que integrarão o documento final, em outros fóruns regionais realizados após a Rio+20. “Estaremos com economias expressivas e os países que deixarem de vir vão lamentar”, disse.

A expectativa, segundo a ONU, é que jornalistas de várias partes do mundo trabalhem na cobertura da Rio+20, que deve reunir milhares de participantes dos mais variados setores da sociedade civil no Rio de Janeiro durante os dias 20, 21 e 22 de junho.

Fontes