30 de novembro de 2024

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Um guia local alerta em um trecho do percurso: “aqui desliguem os telefones, não gravem nem tirem fotos”. A poucos passos de distância, um homem caminha com uma arma longa à vista de todos por um beco íngreme da favela da Rocinha, a mais populosa do Brasil, controlada pelo tráfico de drogas.

Alguns turistas tiram fotos com um influenciador que tem mais de um milhão de seguidores no Instagram. Tudo acontece no meio de uma visita guiada.

“A realidade da favela não é o que muitas vezes querem nos mostrar; Isso é perigoso, não. Tem gente boa, gente gentil, crianças com sonhos, por isso existe esse tipo de turismo, para mostrar às pessoas que aqui é calmo, que aqui não é perigoso", disse Juan Gabriel Velázquez, colombiano de quem vive. turismo e excursões à Rocinha desde 2019.

A Rocinha é um bairro famoso que cresceu situado em um morro localizado entre São Conrado e Gávea, - duas das áreas mais ricas do Rio de Janeiro -, com vista privilegiada para as famosas praias de Ipanema e Copacabana.

A infraestrutura lá é precária. Os cabos eléctricos assemelham-se a teias de aranha que se estendem por becos, onde o cheiro a humidade não passa. O acesso a serviços básicos, como água, é limitado. As paredes possuem grafites com mensagens e regras que devem ser seguidas.

Os depoimentos recolhidos pela VOA para esta reportagem foram supervisionados por guias. Para um dos filmes foi solicitado que não apontasse para uma rua específica. As pessoas têm discursos muito ensaiados e não se atrevem a criticar, mencionar a violência ou referir-se ao grupo armado que controla o bairro com mão de ferro.

Ordem Um processo de “pacificação” das favelas iniciado em 2008 promovido pelo governo regional do Rio de Janeiro, que buscava preparar a cidade para os grandes eventos esportivos que ocorreriam anos depois: a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas Jogos (2016). Mas o plano, que permitiu a instalação das chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), perdeu força após os Jogos.

A polícia só é vista na entrada ou saída da estrada principal. A Ordem está a cargo do Comando Vermelho (CV), uma das maiores facções criminosas do Rio de Janeiro, segundo a mídia local.

O instituto Fogo Cruzado e a Universidade Federal Fluminense, no Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, documentaram em 2023 que o CV controlava 51,9% dos territórios do Rio de Janeiro e da região metropolitana que estavam sob o controle de alguns grupo armado.

De qualquer forma, na Rocinha hoje existe uma espécie de trégua de paz para os visitantes, com vendas de arte local, exposição cultural e samba, onde participam crianças.

O passeio a pé é realizado por operadoras de turismo por cerca de 170 reais, cerca de US$ 35. O passeio de quatro horas é vendido como uma atração do Rio de Janeiro, assim como o famoso Pão de Açúcar ou a estátua do Cristo Redentor.

Dados Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 8 de novembro, cerca de 16,3 milhões de pessoas vivem em favelas, o que representa 8,1% dos habitantes do país.

No total, existem 12.348 favelas no Brasil, quase o dobro do número registrado em 2010. Com 72.021 moradores, a Rocinha é a maior do Brasil.

Muitos dos seus habitantes são migrantes do nordeste do país, que começaram a chegar na década de 1950 em busca de melhorar as suas economias.


Fontes

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